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Sem a FAB, sargentos já controlam vôos
O tráfego aéreo está nas mãos dos controladores, que administram o setor desde sábado sem a chefia dos oficiais da Aeronáutica
Categoria se queixa da falta de uma transição gradual e diz temer sabotagem;
a Aeronáutica não se manifestou sobre o caso
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois do motim "vitorioso"
da sexta, que praticamente parou os aeroportos em todo o
país, o controle de tráfego aéreo
já está, na prática, nas mãos dos
próprios controladores de vôo,
que administram desde sábado
o setor sem supervisão ou chefia dos oficiais da Aeronáutica,
que deixaram as funções antes
mesmo da criação do novo órgão civil que vai gerir a área.
Os controladores se queixam
da falta de uma transição gradual e temem ser sabotados pela ação da Aeronáutica no restante da infra-estrutura do
controle aéreo (equipamento e
pessoal civil e militar).
A "entrega" do controle aéreo, oficializada em nota oficial
da FAB no sábado, é chamada
pelos controladores de "abandono" das salas de controle.
A Aeronáutica tomou essa
decisão em reunião do Alto Comando no sábado. Na noite de
sexta, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito,
foi desautorizado a dar voz de
prisão aos sargentos rebeldes
por ordem do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
A greve só acabou depois de
cinco horas e meia e um acordo
negociado diretamente com o
ministro Paulo Bernardo (Planejamento) -controladores
recusaram a presença de oficiais. A Aeronáutica avalia que
não há volta atrás da quebra de
hierarquia e de disciplina.
No Cindacta-1 (Brasília), oficiais estiveram ou passaram no
local, mas sem de fato chefiar
os trabalhos. No Cindacta-4
(Manaus), a chefia teria ordenado aos controladores a não
usar mais as fardas. No Cindacta-3 (Recife), relatos dão conta
de que o oficial responsável rasgou a escala das equipes.
O Comando da Aeronáutica
não se manifestou.
"A FAB largou de vez o tráfego aéreo. Abandonaram mesmo, está por conta do nosso
pessoal. Em Recife o chefe rasgou a escala. Em Manaus mandaram o pessoal se vestir de civil", disse o sargento Edleuzo
Souza Cavalcante, diretor de
mobilização da ABCTA (Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo).
Segundo ele, não há mais
chefia de sala. Antes do início
da crise aérea, além dos controladores (sargentos) nos consoles, havia um oficial de sala, um
tenente. Quando a crise piorou,
outro oficial (capitão ou coronel) passou a reforçar a chefia.
Mas desde sábado isso mudou.
A Folha apurou que, antes de a
nota oficial da FAB circular ao
público, por volta das 18h, já
havia chegado aos Cindactas.
"Levaremos ao presidente isso. Ele teve uma transição de
governo, não foi? Nós queremos também", disse Cavalcante. Para ele, não existe risco para os passageiros porque o trabalho segue normalmente.
Segundo o presidente do sindicato civil da categoria, Jorge
Botelho, é necessário uma intervenção. "Isso é revanchismo. A responsabilidade ainda é
da Aeronáutica, não houve ainda o ato legal de transferência."
Esses pontos devem ser colocados na reunião dos controladores com o governo de crise
amanhã. Além da "sinalização"
de mudanças com a concessão
de uma gratificação, a categoria
quer assegurar que a desmilitarização contemple a estrutura
(equipamentos e pessoal).
Não está descartada a hipótese de a Aeronáutica soltar nova nota hoje, caso o Planalto
anuncie o formato final do sistema de controle de vôo. A intenção é dar a posição da Força
sobre a proposta de desmilitarização. Se houver nota, será
para o chamado "público interno", os oficiais.
Colaborou ELIANE CANTANHÊDE , colunista da
Folha
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