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Obra do Fura-Fila de 800 t cai sobre viaduto
Acidente foi anteontem à noite e interrompeu, por 19 h, o tráfego em viaduto que liga a zona leste da cidade ao Ipiranga
Queda afetou quem saiu da
zona leste e do ABC para ir ao
centro; nem a prefeitura nem
o consórcio que cuida das
obras explicaram acidente
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um trecho de 64 metros e
800 toneladas de um viaduto
em construção do Expresso Tiradentes (antigo Fura-Fila), na
zona leste de São Paulo, desabou às 23h30 de anteontem.
Não houve feridos. A obra
caiu sobre o viaduto Grande
São Paulo, que liga a zona leste
ao Ipiranga e é caminho para
quem segue de São Caetano do
Sul e outras cidades do ABC em
direção ao centro da cidade.
O acidente interrompeu o
trânsito na ligação da Vila Prudente com o Ipiranga e prejudicou motoristas que tentaram
chegar da zona leste e da região
do ABC ao centro de São Paulo.
Nem a prefeitura nem o consórcio responsável pela obra
(construtoras Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez)
apresentaram explicações.
O consórcio tem 30 dias para
apresentar um relatório sobre
as causas. Técnicos do IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas), do governo do Estado,
estiveram no local ontem a pedido da prefeitura e também
devem elaborar um laudo.
Especialistas ouvidos pela
Folha afirmaram que provavelmente ocorreu um desequilíbrio ao injetar concreto na
placa que fará parte do viaduto.
O erro, apontam os especialistas, é fácil de ser evitado -depende apenas de um bom
acompanhamento técnico.
O prefeito Gilberto Kassab
(DEM) disse que só vai decidir
sobre punições após os laudos.
"É evidente que, se for constatado erro, haverá punições." A
prefeitura, como contratante,
tem de fazer fiscalizações e medições periódicas na obra.
Susto
O pedreiro Edno Batista, 62,
vizinho da obra, disse que houve um barulho estrondoso. "Fui
colocar o lixo e vi carros passando no viaduto. Logo depois,
ouvi um barulho e, quando
olhei, já estava do jeito que está.
Parecia um trovão."
Em nota, as empreiteiras Carioca Engenharia e Andrade
Gutierrez negaram que tenha
havido "desabamento". "O que
ocorreu foi que uma extensão
da estrutura em "T" de trecho
elevado pendeu lenta e gradualmente", diz a nota.
Na hora do acidente cerca de
20 operários trabalhavam e
deixaram o local em segurança,
segundo o consórcio. Saíram
por uma escada lateral.
O Fura-Fila, criado em 1996
como promessa de campanha
do então candidato a prefeito
Celso Pitta (PPB, hoje no PTB),
tornou-se um símbolo do mau
uso de dinheiro público -auditorias do Tribunal de Contas da
União já apontaram ao menos
dez irregularidades.
Já foram gastos mais de R$
675 milhões no projeto que,
apesar de idealizado para ter
170 km, terá 32 km -atualmente, apenas 8 km estão prontos
(foram entregues em 2007).
O trecho em obras tem 2,8
km e vai da confluência das avenidas do Estado e Juntas Provisórias até a Vila Prudente (zona
leste). Nesse trecho haverá três
estações de parada do ônibus.
A obra desse trecho, contratada em 2004, na gestão de
Marta Suplicy (PT), começou
em julho de 2007 e deveria ter
sido concluída em dezembro.
Na semana passada, a prefeitura marcou uma nova data para a inauguração: 18 de maio.
Ontem, Kassab admitiu que o
novo prazo pode não ser cumprido. "A segurança é sempre
prioridade", afirmou.
Kassab, que tenta viabilizar
sua candidatura, têm a extensão do Fura-Fila como uma
bandeira de campanha. O prazo
para que candidatos a prefeito
participem de inaugurações
termina em 4 de julho.
Apesar do acidente, as obras
não pararam -ontem, operários trabalhavam em outras
duas frentes. A peça que tombou será reutilizada. No fim da
tarde, ela foi reequilibrada.
Avaliações preliminares de
técnicos da prefeitura e do consórcio apontaram que a estrutura do viaduto Grande São
Paulo não foi afetado. Por isso,
às 19h05, a via foi liberada.
Para o vereador Antonio Donato (PT), "tudo indica que a
necessidade de entrega da obra
em ano eleitoral pode ter contribuído para o acidente".
Kassab negou que a obra tenha sido acelerada por questões eleitorais. "Inclusive está
atrasado. Até porque a engenharia tem prazos e cronogramas técnicos que não podem
ser acelerados."
Segundo empreiteiras, as
obras ocorriam em dois turnos
de nove horas de trabalho cada
um -18 horas por dia no total.
Vizinhos, moradores da favela
Anhaia Melo, porém, afirmaram que as obras eram ininterruptas. Operários disseram à
Folha que trabalhavam em
turnos de 12 horas.
(EVANDRO SPINELLI, ROGÉRIO PAGNAN, RICARDO SANGIOVANI, JAMES CIMINO,
RACHEL AÑÓN E CINTHIA RODRIGUES)
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