São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2008

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Obra do Fura-Fila de 800 t cai sobre viaduto

Acidente foi anteontem à noite e interrompeu, por 19 h, o tráfego em viaduto que liga a zona leste da cidade ao Ipiranga

Queda afetou quem saiu da zona leste e do ABC para ir ao centro; nem a prefeitura nem o consórcio que cuida das obras explicaram acidente

DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um trecho de 64 metros e 800 toneladas de um viaduto em construção do Expresso Tiradentes (antigo Fura-Fila), na zona leste de São Paulo, desabou às 23h30 de anteontem.
Não houve feridos. A obra caiu sobre o viaduto Grande São Paulo, que liga a zona leste ao Ipiranga e é caminho para quem segue de São Caetano do Sul e outras cidades do ABC em direção ao centro da cidade.
O acidente interrompeu o trânsito na ligação da Vila Prudente com o Ipiranga e prejudicou motoristas que tentaram chegar da zona leste e da região do ABC ao centro de São Paulo.
Nem a prefeitura nem o consórcio responsável pela obra (construtoras Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez) apresentaram explicações.
O consórcio tem 30 dias para apresentar um relatório sobre as causas. Técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), do governo do Estado, estiveram no local ontem a pedido da prefeitura e também devem elaborar um laudo.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmaram que provavelmente ocorreu um desequilíbrio ao injetar concreto na placa que fará parte do viaduto. O erro, apontam os especialistas, é fácil de ser evitado -depende apenas de um bom acompanhamento técnico.
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) disse que só vai decidir sobre punições após os laudos. "É evidente que, se for constatado erro, haverá punições." A prefeitura, como contratante, tem de fazer fiscalizações e medições periódicas na obra.

Susto
O pedreiro Edno Batista, 62, vizinho da obra, disse que houve um barulho estrondoso. "Fui colocar o lixo e vi carros passando no viaduto. Logo depois, ouvi um barulho e, quando olhei, já estava do jeito que está. Parecia um trovão."
Em nota, as empreiteiras Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez negaram que tenha havido "desabamento". "O que ocorreu foi que uma extensão da estrutura em "T" de trecho elevado pendeu lenta e gradualmente", diz a nota.
Na hora do acidente cerca de 20 operários trabalhavam e deixaram o local em segurança, segundo o consórcio. Saíram por uma escada lateral.
O Fura-Fila, criado em 1996 como promessa de campanha do então candidato a prefeito Celso Pitta (PPB, hoje no PTB), tornou-se um símbolo do mau uso de dinheiro público -auditorias do Tribunal de Contas da União já apontaram ao menos dez irregularidades.
Já foram gastos mais de R$ 675 milhões no projeto que, apesar de idealizado para ter 170 km, terá 32 km -atualmente, apenas 8 km estão prontos (foram entregues em 2007).
O trecho em obras tem 2,8 km e vai da confluência das avenidas do Estado e Juntas Provisórias até a Vila Prudente (zona leste). Nesse trecho haverá três estações de parada do ônibus.
A obra desse trecho, contratada em 2004, na gestão de Marta Suplicy (PT), começou em julho de 2007 e deveria ter sido concluída em dezembro.
Na semana passada, a prefeitura marcou uma nova data para a inauguração: 18 de maio. Ontem, Kassab admitiu que o novo prazo pode não ser cumprido. "A segurança é sempre prioridade", afirmou.
Kassab, que tenta viabilizar sua candidatura, têm a extensão do Fura-Fila como uma bandeira de campanha. O prazo para que candidatos a prefeito participem de inaugurações termina em 4 de julho.
Apesar do acidente, as obras não pararam -ontem, operários trabalhavam em outras duas frentes. A peça que tombou será reutilizada. No fim da tarde, ela foi reequilibrada.
Avaliações preliminares de técnicos da prefeitura e do consórcio apontaram que a estrutura do viaduto Grande São Paulo não foi afetado. Por isso, às 19h05, a via foi liberada.
Para o vereador Antonio Donato (PT), "tudo indica que a necessidade de entrega da obra em ano eleitoral pode ter contribuído para o acidente".
Kassab negou que a obra tenha sido acelerada por questões eleitorais. "Inclusive está atrasado. Até porque a engenharia tem prazos e cronogramas técnicos que não podem ser acelerados."
Segundo empreiteiras, as obras ocorriam em dois turnos de nove horas de trabalho cada um -18 horas por dia no total. Vizinhos, moradores da favela Anhaia Melo, porém, afirmaram que as obras eram ininterruptas. Operários disseram à Folha que trabalhavam em turnos de 12 horas.
(EVANDRO SPINELLI, ROGÉRIO PAGNAN, RICARDO SANGIOVANI, JAMES CIMINO, RACHEL AÑÓN E CINTHIA RODRIGUES)

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