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Após acordo, TV ainda expõe comida gordurosa a crianças
Fabricantes continuam exibindo propaganda no intervalo de programas infantis
Para ONG, publicidade de empresas permanece na TV e induz as crianças ao consumo de alimentos ricos em sal, açúcar ou gordura
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria alimentícia continua anunciando seus produtos em programas de TV tipicamente infantis, apesar do compromisso anunciado em 2009
pelo qual se comprometia a não
a fazer publicidade de alimentos ou bebidas para crianças
com menos de 12 anos.
O documento assinado por
24 empresas como McDonald's, Kellogg's e Nestlé foi
uma tentativa do mercado de se
autorregulamentar quando a
Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) discutia limitações à publicidade de alimentos ricos em sal, gordura e
açúcares voltada a crianças.
A Folha encontrou propagandas do McDonald's sobre o
produto "McLanche Feliz" em
intervalos de programas infantis na Discovery Kids, Cartoon
Network, Globo ("TV Globinho") e SBT ("Bom Dia & Cia").
"No mundo feliz do Ronald
McDonald está todo mundo se
mexendo", diz o anúncio em
que garotos jogam futebol, veiculado no mês passado.
O produto Sucrilhos Mania,
da Kellogg's, também está entre os que continuaram nos intervalos de desenhos animados
segundo o Instituto Alana,
ONG que atua na área de direitos da criança e estuda a adaptação das 24 empresas ao compromisso por elas assinado.
A discussão sobre a permanência da publicidade nas mídias infantis foi inócua. Isso
porque ela especificava apenas
que os anúncios estariam extintos de mídias com 50% ou
mais de público infantil -zero
a 12 anos.
Dados do Ibope, porém,
mostram que não há nenhum
programa com tamanha audiência na TV aberta. E na fechada tampouco. No Cartoon
Network, por exemplo, de cada
cem telespectadores, 41 têm de
4 a 11 anos, segundo a medição
do Ibope nos oito maiores mercados de TV paga, entre janeiro
e 2 de agosto do ano passado.
Outra exceção que permite a
publicidade são os critérios nutricionais apontados pelos próprios fabricantes. Em outras
palavras, se um produto se encaixa no que consideram saudável pode ser anunciado.
Para Isabella Henriques, do
Instituto Alana, ONG que atua
na área de direitos da criança,
"a norma tem tantas exceções
que, na prática, nada mudou.
As propagandas permanecem e
induzem as crianças ao consumo de alimentos ricos em sal,
açúcar ou gordura", diz.
Isso, segundo ela, tem relação direta com o problema da
obesidade infantil. Dados de
2008 do Ministério da Saúde
mostram que nos 29 anos anteriores, o aumento do índice de
massa corpórea entre meninas
de 10 a 19 anos foi de 70%.
Ela, assim como outros órgãos de defesa do consumidor,
defendem que as propagandas
deveriam ser para os pais, já
que as crianças são facilmente
conquistadas pela propaganda.
Para Susan Linn, psicóloga e
diretora da "Campanha por
uma Infância Livre de Comerciais", nos EUA, é preciso vontade política para impor limites
à publicidade para crianças.
A Anvisa informou que a mudança do texto da resolução
que regulamentará a publicidade de alimentos -que afrouxou
as regras para anúncios para
crianças ao tirar o veto ao uso
de personagens e brindes, entre outros -se deu para tornar
o texto mais viável. Segundo a
agência, o objetivo é evitar que
ocorra o mesmo que em tentativas passadas de regulação.
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