São Paulo, sábado, 02 de abril de 2011

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ANÁLISE PROPAGANDISTAS EM UNIDADES DE SAÚDE

Não é o paciente que deve pagar essa conta

Embora legítimas, visitas de representantes de laboratórios a médicos reduzem o já exíguo tempo da consulta


ESTUDOS APONTAM QUE O TEMPO MÉDIO DE UMA CONSULTA NO SUS É DE 9 MINUTOS. OMS RECOMENDA, NO MÍNIMO, 15


CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

O veto à ação de propagandistas de laboratórios durante o atendimento nos postos de saúde de Ribeirão abre um novo capítulo na polêmica que envolve médicos e a indústria farmacêutica.
Nos últimos anos, falou-se muito da influência dos laboratórios nas decisões médicas e de gestores do SUS.
Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), 75% desses profissionais recebem visitas mensais de propagandistas, e 37,7% admitem que podem ser influenciados por elas.
A questão agora diz respeito ao tempo que os médicos dedicam aos representantes dos laboratórios. Para atendê-los, atrasam as consultas ou, como suspeitam alguns, reduzem o tempo da consulta. Essa é uma realidade tanto dos postos de saúde do SUS quanto dos consultórios particulares.
Quem nunca presenciou um médico usar o intervalo entre uma consulta e outra para receber propagandistas com suas inconfundíveis maletas pretas? E isso independe de haver ou não um próximo paciente à espera do atendimento.
Não há dúvida de que essas visitas são legítimas e interessam a ambas as partes. Acontece que o tempo da consulta é cada vez mais exíguo. No SUS, pela grande demanda de doentes. Na rede privada, em razão dos baixos valores pagos aos médicos pelos planos de saúde.
Alguns estudos apontam que o tempo médio de duração de uma consulta no SUS é de nove minutos. O Ministério da Saúde e a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendam, no mínimo, 15 minutos.
A redução do tempo de consulta pode omitir etapas importantes no atendimento. Uma boa entrevista (anamnese) que dará pistas para a identificação do problema de saúde e a correta orientação para o uso da medicação são algumas delas.
Os médicos argumentam que as visitas dos propagandistas são importantes para a atualização profissional -ainda que reconheçam que muitas informações sejam enviesadas. Por que então não os recebem antes ou depois das consultas? Ou no horário do almoço? Seja como for, não é o paciente que deve pagar essa conta.


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