São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2000


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SEGURANÇA
Veículos passam a circular com só um soldado; especialistas dizem que modelo é perigoso e ineficiente
PM testa "policial solitário" no centro

Caio Guatelli/Folha Imagem
Sozinho, policial militar faz ronda na avenida Paulista, em experiência por enquanto restrita à região central de SP


ALESSANDRO SILVA
MARIANA VIVEIROS
da Reportagem Local

Como nova estratégia contra o crime, a Polícia Militar colocou em circulação 200 veículos para fazer um patrulhamento solitário. Em cada carro, em vez de dois soldados, incluindo o que fica ao volante, há um único homem.
A experiência está restrita ao centro expandido de São Paulo -área delimitada pelas marginais Pinheiros e Tietê-, mas deve ser ampliada.
Especialistas em segurança e entidades de policiais afirmam que esse modelo de patrulhamento é ineficiente, além de ser perigoso para o soldado.
Normalmente, os policiais militares trabalham em dois ou mais, e um dá cobertura ao outro nas ocorrências.
""É uma forma de aumentar a presença da polícia em locais com baixos índices de criminalidade", afirma Marco Vinicio Petrelluzzi, secretário da Segurança Pública. Segundo ele, "não há risco para os policiais". O patrulhamento solitário é adotado em Paris, entre outras cidades do exterior.
A Associação dos Cabos e Soldados da PM diz que a medida é pior que ""suicídio" por causa do tipo de criminalidade da capital.
""Um tiroteio não leva mais do que um minuto para acabar", diz o presidente da entidade, o cabo Wilson de Oliveira Morais, que também é deputado pelo PSDB. "E ninguém sabe onde o tiroteio vai acontecer nem se o reforço chegará em tempo."

Furto e roubo
Petrelluzzi disse que o patrulhamento no centro expandido estará voltado mais para os crimes contra o patrimônio -furto e roubo. ""Antes de fazer uma abordagem, o policial pede reforço pelo rádio."
Por enquanto, não há estimativa da eficácia do projeto piloto, que tem pouco mais de um mês de existência na capital.
Policiais que preferem não se identificar disseram à Folha que já deixaram de prender criminosos por estarem sozinhos.
A Associação dos Cabos e Soldados irá pedir para o secretário da Segurança Pública o fim da experiência. Uma das alegações será o tempo gasto para atender uma ocorrência na capital -ou dar apoio a outros policiais-, que é de cerca de dez minutos, segundo a associação.
O comando da PM diz que o tempo de resposta é menor e que há prioridade em dar apoio às equipes de rua em perigo.

Risco
Os "policiais solitários", como os convocados para a função se autodenominam, receberam um colete, um carro com câmbio automático e uma pistola.
Eles têm a missão de patrulhar as regiões bancária e comercial e a "cracolândia", como é conhecido o local do centro velho frequentado por traficantes e dependentes de drogas. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, eles estão aptos a atender qualquer tipo de ocorrência policial.
Em outros países, esse modelo de ronda é um serviço complementar. ""Esse tipo de policiamento é perfeito para cidades do interior, com no máximo 300 mil habitantes", disse o coronel reformado da PM José Vicente da Silva, pesquisador de segurança pública do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. O município de São Paulo, hoje, tem cerca de 10 milhões de habitantes.
Na capital, a experiência também está sendo testada à noite. ""Não colocaria um policial sozinho à noite nas ruas, porque a escuridão o torna mais vulnerável", afirma Silva.

Carros novos
O governo do Estado comprou cerca de 600 veículos para a Polícia Militar este ano, incluindo os carros do tipo Vectra, com câmbio automático, para o policiamento solitário.
Segundo a corporação, nos horários de pico, há cerca 900 veículos em circulação pelas ruas de São Paulo, incluindo os carros dos policiais solitários.


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