São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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CÉU CONGESTIONADO

Aeronaves terão de pedir autorização para voar em área de 102 km2 perto do aeroporto de Congonhas

Tráfego de helicóptero será controlado em SP

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Traffic. Traffic."
"Climb. Climb."
Palavras como essas -emitidas pelos computadores de bordo das aeronaves- têm sido ouvidas com uma freqüência cada vez maior nas cabines dos aviões que se aproximam para pousar no aeroporto de Congonhas. Em inglês, indicam que o sistema de segurança do vôo detectou um corpo em rota de colisão com a aeronave, sugerindo que o comandante inicie uma manobra de fuga - "climb" significa subir, escalar.
O corpo em questão é, na esmagadora maioria das vezes, um helicóptero que sobrevoa os distritos de Pinheiros, Moema, Itaim Bibi ou Morumbi. E a manobra de fuga só não acontece com mais freqüência porque, habituados a pousar em Congonhas, os pilotos deixam de lado as normas internacionais de aviação, olham pela "janelinha" do avião, vêem o helicóptero e seguem a aterrissagem.
É para evitar que essa situação evolua para um cenário mais grave que o Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo (SRPV-SP), órgão ligado ao Comando da Aeronáutica, passará a controlar o deslocamento de helicópteros no sudoeste da capital.
"Temos casos como esse pelo menos uma vez por semana", estima o capitão-aviador Carlos Alberto de Mattos Bento, 34, chefe do serviço de prevenção de acidentes de São Paulo. "E não podemos esperar uma tragédia para agir. A aviação tem de se antecipar aos fatos", completa o comandante Carlos Artoni, 47, presidente da Associação dos Pilotos de Helicóptero do Estado, que participou da elaboração das medidas.
Pelas novas regras, para trafegar numa área de 102 km2 -delimitada pelo estádio do Morumbi, a avenida Paulista, a ponte do Jaguaré e o aeroporto de Congonhas (veja mapa na pág. C3)- os pilotos de helicóptero passarão a ser obrigados a pedir autorização para um controlador de vôo. A liberação será necessária para decolar de dentro do quadrilátero, pousar na área ou cruzar a região.
"Hoje, alguns [piloto de helicóptero] até tentam contato, mas há dificuldade, pois não temos posições para atender a todos", afirma o tenente-coronel Valter Heitor Cadore, 50, chefe do controle do espaço aéreo paulista.
A medida é inédita. Nem os pilotos nem a Aeronáutica têm notícia de haver em algum lugar do mundo uma área na qual o vôo de helicópteros seja controlado nem de existir um local que tenha escalado um operador especialmente para coordenar essas aeronaves.
Com publicação prevista para o próximo dia 13, a regra entrará em vigor em 10 de junho. Até lá, 20 controladores terão sido treinados para ocupar o posto.

Congestionamento aéreo
O aeroporto de Congonhas tem duas pistas de pouso -a 17 e a 35, cujos nomes fazem referência à posição de ambas em relação ao norte magnético do planeta.
As aeronaves com pouso previsto para a pista 35 devem iniciar a aproximação por Diadema. As que aterrissam na pista 17 começam o procedimento pela Vila Madalena -distante 11,1 km do aeroporto-, ponto a partir do qual desenham uma rampa imaginária até o solo de Congonhas.
A área na qual a Aeronáutica vai controlar o vôo de helicópteros refere-se exatamente a esse segundo trecho -da Vila Madalena até Congonhas, avançando 4,6 km para cada um dos lados.
É pela pista 17 que se dão 80% dos pousos do aeroporto, devido à direção dos ventos. Ao mesmo tempo, porém, em sua área de aproximação estão 106 dos 182 helipontos com operação autorizada pela Aeronáutica na capital.
São locais movimentados. Num teste de monitoramento feito pelo SRPV na véspera do Carnaval, 350 operações de helicóptero foram registradas na região.

Segurança e conforto
Além de demarcar a área de controle, a Aeronáutica criou dentro dela quatro novas rotas de helicóptero -hoje, são 17 em toda a cidade. A idéia é que os pilotos conduzam as aeronaves por esses trajetos imaginários. Atualmente, sem eles, os helicópteros se movimentam livremente na região, cruzando, muitas vezes, o eixo de pouso dos aviões.
Nas rotas em questão haverá ainda duas outras novidades que visam, respectivamente, a segurança do vôo e o conforto dos moradores. A primeira fixa que, nos trechos mais próximos ao eixo de pouso do avião, os helicópteros têm de se movimentar no mesmo sentido que a aeronave principal e paralelamente à sua rota. Assim, os instrumentos de bordo não apontam risco de colisão.
A segunda norma fixa altitudes de vôo para os helicópteros de até 3.500 pés no quadrilátero -o maior índice da cidade. Os limites foram empurrados ao máximo -mantendo apenas a distância mínima vertical, de 500 pés (150 metros), entre helicópteros e aviões- para diminuir o nível de ruído para a população em terra.
"A tecnologia nos permite reduzir a distância entre as aeronaves, pois diminui a margem de incerteza", afirma o coronel Luiz Cláudio Ribeiro da Silva, 44, chefe do SRPV-SP. Ele admite que, ao criar normas para o tráfego na região, o SRPV passa a dividir com os pilotos a responsabilidade por eventuais acidentes naquele trecho.


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