São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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PSICOLOGIA

Serviços profissionais de auxílio a vítimas de perdas tiveram aumento de 50% na procura neste ano em relação a 2003

Grupos ajudam pais a superar perda do filho

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu queria engravidar de novo, colocar um outro bebê no lugar daquele que morreu sem nome. A terapeuta nos ajudou a entender que Maria -como passamos a chamá-la- sempre ocupará um lugar em nosso coração."
"Às vezes tenho necessidade de abrir o perfume dela, sempre durmo agarrada ao seu travesseiro."
"Sinto falta das suas risadas, das suas músicas ouvidas a toda potência. Suas últimas palavras ainda ecoam nos meus ouvidos, "mã, eu quero ver o mar"."
São depoimentos de mães que perderam filhos, alguns ainda na barriga, outros já adolescentes. Os especialistas dizem que a dor da perda é a mais universal e a mais difícil de aceitar.
Há alguns anos, não havia grupos profissionais especializados em lidar com essas vítimas. Agora, os poucos serviços que a cidade oferece para essas pessoas já não dão conta da procura.

Serviços de apoio
"De um lado, há mais jovens morrendo; de outro, há mais pessoas entendendo que o luto precisa ser cuidado", diz Gabriela Casellato, 30, um filho, psicóloga clínica do Lelu (Laboratório de Estudos do Luto, da PUC) e da clínica Quatro Estações.
Nos dois serviços, a procura aumentou em mais de 50% do ano passado para cá, diz a psicóloga.
Na próxima quarta-feira, dia 5, terapeutas da Quatro Estações convidam pais em luto para uma palestra. A idéia é dar a eles uma "esperança dentro do luto" e reuni-los em grupos "que possam compartilhar sentimentos", acompanhados por um terapeuta. "Pais enlutados precisam entender que podem e precisam dividir sua dor", diz Casellato.
A proximidade do Dia das Mães não é mera coincidência. É quando a falta é sentida com mais intensidade. Segundo especialistas, o natural é que os filhos enterrem os pais. O luto mais dolorido é o dos pais que precisam enterrar seus filhos.
A volta do respeito à dor do luto -cada vez mais "apressado" e desconsiderado- já atraiu 400 pessoas ao Quatro Estações, e 800 profissionais passaram por treinamento. São pessoas que lidam mais freqüentemente com perdas, como médicos, profissionais de saúde, padres e psicólogos. "Hoje, há mais consciência de que o luto precisa de ajuda, e que falar sobre a perda e a morte é importante", diz a terapeuta.


Quatro Estações - rua Caçapava, 130, Jardim Paulista; tel: 0/xx/11/3891-2576


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