São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2008

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Sangue no carro é de Isabella, diz polícia

Relatório entregue à Justiça desmonta, para a polícia, a versão do casal de que a menina foi levada incólume para o apartamento pelo pai

Segundo o documento, ferimento foi feito pela madrasta da menina, que, afirma a polícia, atingiu Isabella com uma chave

LUÍS KAWAGUTI
KLEBER TOMAZ
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O relatório final da Polícia Civil sobre o assassinato de Isabella Nardoni afirma de modo taxativo que o sangue encontrado no Ford Ka da família é mesmo da menina.
"O sangue (...) na lateral esquerda da cadeirinha de transporte do bebê, que se encontrava no interior do veículo, tem o perfil genético de Isabella", escreveu a delegada-assistente Renata Helena da Silva Pontes no documento, entregue ao juiz Maurício Fossen e ao promotor Francisco Cembranelli.
A informação sobre o sangue, que tem base no laudo anexado na página 783 do inquérito, é considerada pela polícia como uma das principais provas contra o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.
Isso porque, na visão da polícia, a constatação do sangue desmonta a versão apresentada pelo casal -que em seu depoimento afirmou que o pai da menina a levou dormindo nos braços para o apartamento, sem ferimento algum.
Alexandre, diz o casal, teria deixado a menina na cama dela e voltado para a garagem a fim de buscar as outras crianças. Nesse ínterim, afirma, um criminoso invadiu o apartamento e matou a menina.

Defesa contesta
Procurada ontem pela Folha, a defesa do casal afirma que a perícia não conseguiu provar que o sangue no carro é de Isabella e que vai contratar peritos particulares para analisar os laudos oficiais.
Os advogados afirmam que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá são inocentes.
Um dos peritos do Instituto de Criminalística afirmou à Folha que somente em uma hipótese o sangue encontrado no carro poderia não ser de Isabella: se ela tivesse uma irmã gêmea (ela não tem).
Tal afirmação corrobora o que já foi dito pelo promotor Francisco Cembranelli: "A conclusão é clara, absolutamente clara. Só não vê quem não quer. Temos a posição de Isabella no carro, confirmada pelo próprio casal, e são marcas [de sangue] bastante significativas. Isso e outros fatores- não pretendo entrar agora na discussão disso- permitem concluir que se tratava de sangue de Isabella".
Consultada pela Folha sobre como é possível obter o "perfil genético" de alguém, a hematologista Patrícia Pranke, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirma que os peritos tiveram necessariamente de fazer um exame de DNA nas amostras de sangue coletadas.
Segundo ela, seria possível para os peritos saber se aquele sangue era de Isabella, de seus irmãos ou do pai. Para isso, podem ter comparado a amostra de sangue com as das demais pessoas que estavam no carro.

Chave tetra
O documento com as conclusões da polícia tem 43 páginas e detalha a dinâmica do crime na visão da polícia, mas não aponta motivações.
Afirma que o sangue deriva de um ferimento de cinco milímetros, "provocado por um instrumento contundente, não-cortante, (...), assemelhando-se o ferimento à ponta de uma chave tetra".
Ainda de acordo com a polícia, o ferimento foi feito pela madrasta, considerando a posição dela no carro.
Uma fralda teria sido usada para estancar o sangue e impedir Isabella de gritar.
Depois disso, já no apartamento, a menina teria sido atirada no chão da sala -o que lhe causou, diz o documento, fratura no "isquion" (osso da região da bacia) e no pulso esquerdo.
Anna, então, teria tentado esganar a menina. Nesse momento, o irmão de três anos teria gritado "papai, papai, pára", pedindo que o pai interferisse a fim de parar a agressão.
A frase, diz a polícia, foi ouvida por duas testemunhas. Depois disso tudo, ele ou ela (a polícia não faz a distinção no relatório) teria limpado os vestígios de sangue e feito um buraco na tela de proteção.
Alexandre, por fim, diz a polícia, jogou a filha pela janela -informação baseada em laudo (folha 713 do inquérito) segundo o qual marcas na roupa ("sujidades em forma de losangos") apontam que ele se apoiou na tela.
O relatório e o inquérito devem fundamentar na próxima semana um parecer do promotor Cembranelli sobre o pedido de prisão temporária do casal. Ele também prepara a denúncia de Alexandre e Anna Carolina à Justiça.
O juiz Fossen, por sua vez, decidirá sobre o pedido de prisão preventiva.


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