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BARBARA GANCIA
Em defesa do Fenômeno
Ao ver o atacante Ronaldo na TV com ar de mendigo de porta de igreja, senti vontade de pegá-lo no colo
NADA COMO se colocar no lugar do outro para pôr os fatos
em perspectiva. Imagine,
por um momento, que você está
afastado do trabalho, anda macambúzio, sem muita motivação e quase
nada para fazer a fim de ocupar o
tempo. De lambuja, você padece de
dores no joelho e está fora de forma.
Para aplacar o tédio ou, quiçá, tentar o beiçudo com vara curta (a mente ociosa não é a oficina do demônio?), você comete uma bobagem
colossal, do tipo que não gostaria
que ninguém ficasse sabendo. Muito menos seu filho, sua cara-metade,
seus pais, seu empregador e todas as
pessoas que o admiram.
Só que, além dessa gente, todos os
outros seres do planeta Terra que
saibam ler, assistam TV ou gostem
de futebol vão acabar tomando conhecimento do seu deslize. Deu para sentir o cheiro da brilhantina?
O nobre leitor pode achar ou não o
fim da picada a história da noite de
Ronaldo com travestis, mas um fato
permanece: as pessoas fazem besteiras. Com ou sem dinheiro, fama, sucesso e apoio de familiares e amigos,
não há quem não pise no tomate de
tempos em tempos.
É melancólico e até meio patético
que Ronaldo tenha escolhido cometer a sua a caminho do ocaso futebolístico. Mas, a despeito de todas as
conseqüências que o gesto impensado do ídolo, embaixador da Unicef e
garoto-propaganda possam vir a
provocar, ao ver Ronaldo na TV com
aquele ar desamparado de mendigo
de porta de igreja, senti vontade de
pegá-lo no colo, de passar a mão em
suas costas e dizer: "Pronto, já passou, já passou, está tudo bem".
Meu arroubo maternal está respaldado na crença de que existem
coisas piores do que tomar uma decisão inconseqüente no meio da madrugada. Acho também que, nos
dias que correm, é legítimo confundir alhos com bugalhos.
Não vou citar nomes da terra a fim
de evitar pendências judiciais, mas o
nobre leitor deve estar familiarizado
com mulheres como Donatella Versace, Cher, Melanie Griffith, Meg
Ryan e Madonna, não?
Pois então. São tantos os cortes,
recortes, enxertos e buriladas que
essas distintíssimas senhoras apresentam nos lábios, olhos, bochechas
e no pescoço, que eu me pergunto se,
às duas da "mattina", alguma delas
não poderia ser facilmente confundida com um travesti.
Ou será só impressão minha de
que as cirurgias plásticas e a funilaria praticada em consultórios de
dermatologia deixaram a mulherada toda com cara de quem trabalha
percorrendo as calçadas de Roma,
Milão ou Paris?
E tem mais: chiem os puristas o
quanto quiserem, mas, para esta humilde datilógrafa que vos fala, homens são reféns de seus pingolins.
Dou um exemplo básico: o sujeito
está na praia tomando sol e sente
aquela vontade de chupar um picolé
de limão. Na hora em que começa à
se deslocar na direção do carrinho
de sorvete a procura de seu refresco,
o pobrezinho avista uma bonitona
saindo da água em trajes sumários,
com reluzentes gotas de água escorrendo pelo corpo banhado de sol.
Será que nosso herói irá virar a cara e continuar indo a passos determinados em direção ao picolé ou ele
acabará sucumbindo aos desejos de
seu mestre e mandando a Kibon e a
Yopa às favas junto com mulher, filhos, sogra e cachorro a fim de continuar admirando a paisagem?
barbara@uol.com.br
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