São Paulo, sábado, 02 de junho de 2001

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EDUCAÇÃO

Em dois anos, aumentou 141% o número de unidades que mesclam alunos que necessitam de cuidado especial com os demais

Escolas ampliam integração de deficiente

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Tatiane Egual (centro), 11, portadora da Síndrome de Down, brinca no recreio da Escola Kazue Fuzinaka, em S. Bernardo do Campo


ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nunca foi tão grande a disposição das escolas de integrar em sala de aula os alunos portadores de alguma deficiência ou necessitados de cuidados especiais.
Os dados recém-tabulados da Sinopse do Censo Escolar 2000 mostram que cresceu 141%, em dois anos, o número dos estabelecimentos que colocam esses estudantes em classes regulares, juntos com os demais.
Foi isso que a Escola Municipal Kazue Fuzinaka, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), fez com Tatiane Egual, 11, portadora da síndrome de Down.
Na quinta-feira, ela assistiu a sua primeira aula na nova escola. Na hora do recreio, a mãe, Iraci Egual, 49, acompanhou a adaptação de Tatiane escondida na sala da diretora, para que a filha não a percebesse. A julgar pelo olhar choroso da mãe, a recepção não poderia ter sido melhor.
"Não existe sensação pior do que deixar o filho na escola no primeiro dia. Para quem tem uma criança especial, o medo do filho não ser aceito é maior ainda. A hora em que eu vi que ela estava sorrindo, não me contive", disse.
A escola Kazue Fuzinaka faz parte das estatísticas do MEC que mostram a existência, em 1998, de 5.637 escolas que mesclavam alunos especiais com os demais. Em 2000, o número chegou a 13.592. As matrículas desses estudantes em classes regulares também tiveram aumento significativo: 86%.
Apesar da boa notícia, o censo mostra que ainda há muito a melhorar no que diz respeito à infra-estrutura para receber esses estudantes. A maioria (63%) das 81.695 crianças portadoras de necessidades especiais estudam em salas sem recursos específicos para cada tipo de deficiência.
A integração, apesar de acelerada, ainda é tímida. Das crianças deficientes no Brasil em 2000, 300.520 estudam em escolas exclusivas ou em classes especiais (separadas dos demais alunos) e 81.695 nas integradas.
Na análise da secretária de Educação Especial do MEC, Marilene Ribeiro dos Santos, os números mostram que existe uma tendência forte de as escolas normais abrirem suas portas para incluírem esses alunos.
"A maioria dos alunos especiais ainda está matriculada em escolas exclusivas, principalmente nas particulares ou mantidas por associações beneficentes. O MEC está fazendo um trabalho de chamar essas crianças para procurar as escolas públicas e incluí-las na rede regular", afirma Marilene.
Na teoria, há quase uma unanimidade entre os educadores de que todas as crianças com necessidades especiais podem e devem ser integradas em classes comuns. Na prática, no entanto, essa idéia esbarra na falta de estrutura da escola e de formação dos professores para lidar com casos graves.
"É preciso analisar se a criança está se beneficiando do processo de integração ou não. Na nossa realidade, nem sempre isso acontece, porque nem todas as escolas estão preparadas para receber esses estudantes", afirma Marcelo Gomes, coordenador da área de saúde da Apae-SP (Associação de Amigos e Pais de Excepcionais).
"A inclusão escolar é irreversível, mas é um processo em transição. Nós acreditamos que uma criança extremamente comprometida vá se beneficiar muito pouco numa classe regular. Mesmo assim, achamos que 90% dos alunos com necessidades especiais se beneficiariam com a integração", diz Marilene.
Para a psicóloga Cecília Batista, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, um dos riscos da inclusão sem qualidade é criar na criança o sentimento do fracasso. "O aluno percebe que não está acompanhando o ritmo dos outros e isso leva ao sentimento de frustração, que pode criar um comportamento agressivo ou de desinteresse", afirma.
A maioria das crianças que necessitam de cuidados especiais são deficientes físicos, auditivos, visuais ou mentais. Alunos superdotados e autistas também entram nas estatísticas do Ministério da Educação.



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