São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Remédio gratuito no SUS é vendido

Itens distribuídos sem custo na rede pública são vendidos em farmácias do governo federal e do Estado do Rio

Laudo do Tribunal de Contas aponta que os produtos que integram o sistema único de saúde são 67% da receita do programa do governo do RJ


RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O governo federal e o Estado do Rio vendem em suas farmácias populares medicamentos que são distribuídos gratuitamente à população -com o financiamento de ambos- pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Levantamento feito pela Folha mostra que a Farmácia Popular do Brasil (federal) cobra dos seus clientes por ao menos 18 produtos que devem ser entregues gratuitamente na rede pública; a Farmácia Popular Vital Brazil (do Estado do Rio) oferece, por R$ 1,19, produtos que constam da lista do SUS.
O programa de distribuição gratuita de medicamentos do SUS prevê contrapartidas federais (R$ 1,65 por habitante/ano), estaduais (R$ 1) e municipais (R$ 1). Segundo o Ministério da Saúde, "a distribuição de todos os tipos de remédios, porém, fica sob a responsabilidade das secretarias estaduais e municipais da Saúde". O Farmácia Popular do Brasil é programa com orçamento próprio e não recebe recursos do SUS.
Relatório do Tribunal de Contas do Estado do Rio sobre o programa Farmácia Popular Vital Brazil mostra que os 19 medicamentos incluem a lista de 44 vendidos nessas unidades, que fornecem a R$ 1 remédios e fraldas geriátricas para idosos com mais de 60 anos.
Entre os produtos que deveriam ser gratuitos e são vendidos pela União e pelo governo do Rio estão genéricos de analgésicos, antibióticos, broncodilatadores e cardiovasculares.
"Integram também a relação dos que deveriam ser fornecidos gratuitamente no bojo do Programa de Assistência Farmacêutica Básica (Farmácia Básica). Assim, colocam-se à venda (ainda que pelo valor simbólico de R$ 1) determinados medicamentos aos quais deveria ter acesso qualquer cidadão, e não somente os idosos cadastrados nas Farmácias Populares, em prática estranha ao pactuado com o SUS e reiterada desde o início do programa", diz o relatório do TCE-RJ.
Os 19 remédios representam em vendas 67% do arrecadado pelo governo do Rio com o programa entre a fundação da primeira unidade (julho de 2003) e junho de 2005 -R$ 35,3 milhões dos R$ 52,5 milhões.
O TCE diz que o Estado já havia sido alertado sobre a venda dos remédios. Um documento foi enviado ao deputado estadual Paulo Ramos (PDT) como resposta a pedidos de investigação da CPI das ONGs na Assembléia do Rio, que terminou sem relatório final por pressão da bancada governista.
Apesar de o ministério informar que a distribuição cabe a Estados e municípios, a Secretaria da Saúde do Rio disse que não entrega remédios e que a atribuição é das prefeituras. A Prefeitura do Rio não soube dizer quais são os remédios básicos distribuídos em sua rede de hospitais e postos de saúde.
Na rede de 17 farmácias Vital Brazil, todos os medicamentos vêm em cartelas, ao preço de R$ 1. Na Farmácia Popular do Brasil, federal, os preços unitários variam por produto.


Texto Anterior: Polícia: Dupla é detida por grampear telefones
Próximo Texto: Em SP, 17 dos medicamentos são gratuitos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.