São Paulo, sábado, 02 de junho de 2007

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Para filhos, pais adotivos são mais participativos

Pesquisa ouviu 300 filhos adotivos e 300 biológicos, com idades entre 8 e 56 anos

Uma das conclusões do estudo da UFPR é que, quanto mais cedo a criança souber que foi adotada, mais elevada será sua auto-estima

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Pais adotivos são mais participativos, convivem em maior harmonia conjugal e interagem mais com os filhos do que pais biológicos. É o que dizem os próprios filhos, em pesquisa recém-finalizada pela psicóloga da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Lídia Weber.
O estudo ""Adoção e Interação Familiar: uma comparação entre famílias adotivas e biológicas" submeteu questionários a 600 pessoas -300 filhos adotivos e 300 biológicos- de diferentes partes do país, com idades de 8 a 56 anos.
A conclusão, segundo Weber, "desmitifica a filiação adotiva", por revelar que a família adotiva tem as mesmas características da família biológica, e também por derrubar tabus e preconceitos sobre a adoção.
Um dos tabus que caem, aponta a pesquisadora, é o de adiar o máximo possível a revelação de que o filho é adotado. A pesquisa apontou que, quanto mais cedo a criança tomar conhecimento, mais elevada é sua auto-estima.
Todos os filhos adotivos ouvidos na pesquisa sabiam de sua condição. Entre as crianças, o índice de elevada auto-estima superou 80%. Com o avanço da idade, essa taxa tem forte queda: é de cerca de 35% em adolescentes adotados e cai para 15% em adultos.
Para Weber, a baixa auto-estima dos adultos adotivos se deve ao preconceito que envolvia a prática no passado. ""O filho adotivo era considerado de "segunda classe", e só se falava sobre adoção por sussurros. O resultado indica uma redução do preconceito em relação às adoções atuais", afirma a psicóloga da UFPR.

Biológicos
Entre filhos biológicos, a tendência se inverte: identificou-se auto-estima elevada em cerca de 10% das crianças e em quase 100% dos adultos. Esses índices, segundo a psicóloga, aparecem com freqüência em estudos comportamentais -a surpresa para ela foi a auto-estima elevada das crianças adotivas, que ela atribui à consciência de sua condição.
Enquanto 46,1% dos filhos biológicos apontaram clima negativo alto entre os pais, no grupo de adotados essa situação foi notada por uma parcela menor: 26,6%. Weber diz que isso ocorre pela sintonia entre os casais adotantes, que normalmente têm problemas de infertilidade e se unem fortemente em torno da decisão.
A melhor avaliação dos pais pelos filhos adotivos se repete em outros aspectos do estudo. Das crianças e adolescentes adotados, por exemplo, 58,3% e 42,4%, respectivamente, disseram considerar os pais participativos, ante índices de 37,7% e 29,9% entre crianças e adolescentes de pais biológicos.

Condição financeira
Boa situação financeira dos pais foi citada como importante por apenas 3,3% dos entrevistados quando a pesquisa sondou o que crianças e adolescentes adotivos mais valorizam na nova família. Amor (39,1%), diálogo, sinceridade e naturalidade (21,1%), estrutura familiar e emocional (9,4%) e desejo de ter filho/família (8,4%) vieram antes da condição financeira.
A pesquisa localizou os filhos adotivos por meio de ONGs de apoio à adoção e por buscas em comunidades do site de relacionamentos Orkut. A seleção dos filhos biológicos foi feita em escolas, levando em conta semelhança de idade, sexo e grau de instrução, entre outros pontos.


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