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ANÁLISE
O aniversário de mais uma tragédia. Quais as lições aprendidas?
JORGE EDUARDO LEAL MEDEIROS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O acidente do voo Air
France 447 ocorreu em pleno
voo de cruzeiro, sobre o oceano, o que é raro -228 pessoas
perderam suas vidas no pior
acidente na história da Air
France, e no primeiro do Airbus A-330, que está sendo investigado pelo BEA (Bureau
dEnquêtes et dAnalyses).
Teme-se que certo corporativismo estatal francês possa melindrar uma investigação imparcial.
Em foco estão os sensores
de velocidades (pitots) fabricados pela Thales (francesa),
envolvidos em outros eventos. A própria Airbus havia
recomendado sua troca, que
não foi feita por não ter sido
obrigatória. Após o acidente,
o FAA (autoridade aeronáutica americana), obrigou a troca por haver indicações erradas em voos em grande altitude e condições meteorológicas adversas, semelhantes
às encontradas pelo AF 447.
Um acidente não ocorre
por um só fator. Provavelmente houve a combinação
de pitots com as condições
meteorológicas encontradas,
e também falha do ADIRU,
um dos computadores de
bordo. Os aviões modernos
dependem muito de computadores, que permitiram a redução dos cinco tripulantes
da década de 50 para os
atuais dois.
O comandante do AF 447
tinha 11 mil horas de voo, e
seus dois copilotos tinham,
em conjunto, cerca de 9.000
horas. Na Varig, os comandantes-chefe (masters) tinham mais de 20 mil horas, e
os seus copilotos, também
comandantes, mais de 15 mil
horas cada. Isto influenciou
o acidente? Porque um voo
da Iberia, na mesma rota e
que passou um pouco antes,
desviou-se mais de 100 km
para evitar o mau tempo, e o
AF 447 não o fez?
Dificilmente saberemos. O
governo francês voltou a procurar as caixas pretas, mas
abandonou a procura logo
depois de ter delimitado a
área de busca. É mais barato
buscar caixas nestas condições difíceis, ou enviar permanentemente seus dados
por rádio, como as 24 mensagens ACARS enviadas nos
quatro minutos finais do AF
447? Qual é o custo de tornar
isto obrigatório, fazendo com
que as "caixas pretas" sejam
um sistema redundante, como tantos outros na aviação,
com seus dados sempre sendo enviados, automática e
constantemente?
Talvez, uma vez mais, um
acidente possa melhorar as
condições de segurança. A
um custo muito alto.
JORGE EDUARDO LEAL MEDEIROS , 63, é
engenheiro de aeronáutica e professor da
Escola Politécnica da USP. Foi diretor da
Atech, da Translor, da Vasp, diretor-adjunto da Varig, engenheiro da
Hidroservice e chefe de gabinete da Anac
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