São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

O aniversário de mais uma tragédia. Quais as lições aprendidas?

JORGE EDUARDO LEAL MEDEIROS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O acidente do voo Air France 447 ocorreu em pleno voo de cruzeiro, sobre o oceano, o que é raro -228 pessoas perderam suas vidas no pior acidente na história da Air France, e no primeiro do Airbus A-330, que está sendo investigado pelo BEA (Bureau dEnquêtes et dAnalyses).
Teme-se que certo corporativismo estatal francês possa melindrar uma investigação imparcial.
Em foco estão os sensores de velocidades (pitots) fabricados pela Thales (francesa), envolvidos em outros eventos. A própria Airbus havia recomendado sua troca, que não foi feita por não ter sido obrigatória. Após o acidente, o FAA (autoridade aeronáutica americana), obrigou a troca por haver indicações erradas em voos em grande altitude e condições meteorológicas adversas, semelhantes às encontradas pelo AF 447.
Um acidente não ocorre por um só fator. Provavelmente houve a combinação de pitots com as condições meteorológicas encontradas, e também falha do ADIRU, um dos computadores de bordo. Os aviões modernos dependem muito de computadores, que permitiram a redução dos cinco tripulantes da década de 50 para os atuais dois.
O comandante do AF 447 tinha 11 mil horas de voo, e seus dois copilotos tinham, em conjunto, cerca de 9.000 horas. Na Varig, os comandantes-chefe (masters) tinham mais de 20 mil horas, e os seus copilotos, também comandantes, mais de 15 mil horas cada. Isto influenciou o acidente? Porque um voo da Iberia, na mesma rota e que passou um pouco antes, desviou-se mais de 100 km para evitar o mau tempo, e o AF 447 não o fez?
Dificilmente saberemos. O governo francês voltou a procurar as caixas pretas, mas abandonou a procura logo depois de ter delimitado a área de busca. É mais barato buscar caixas nestas condições difíceis, ou enviar permanentemente seus dados por rádio, como as 24 mensagens ACARS enviadas nos quatro minutos finais do AF 447? Qual é o custo de tornar isto obrigatório, fazendo com que as "caixas pretas" sejam um sistema redundante, como tantos outros na aviação, com seus dados sempre sendo enviados, automática e constantemente?
Talvez, uma vez mais, um acidente possa melhorar as condições de segurança. A um custo muito alto.


JORGE EDUARDO LEAL MEDEIROS , 63, é engenheiro de aeronáutica e professor da Escola Politécnica da USP. Foi diretor da Atech, da Translor, da Vasp, diretor-adjunto da Varig, engenheiro da Hidroservice e chefe de gabinete da Anac


Texto Anterior: Parentes das vítimas do voo 447 criticam a França
Próximo Texto: Prefeitura vai revitalizar ciclovia que não está pronta
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.