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PLANOS DE SAÚDE
Cliente que não quiser se adequar à lei atual é avisado de que passará a pagar muito mais pelo serviço
Seguradora impõe reajuste acima do oficial
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O aposentado Pedro Kuchkarian, 69, tomou um susto ao receber uma carta da Bradesco Saúde
recentemente. A mensalidade de
seu seguro-saúde, mantido há
mais de 16 anos, aumentará em
81,6% a partir do próximo mês,
índice muito acima do reajuste
máximo anual autorizado pelo
governo em 2004, de 11,75%.
Reajuste igual recebeu o médico
Paulo, 64, que prefere não se identificar. Segurado há 30 anos pela
empresa, ficou surpreso, assim
como o aposentado.
Os aumentos são decorrentes
da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), de agosto de 2003,
que determinou que pontos da lei
que regula planos e seguros-saúde, de 1998 -a 9.656-, não valeriam para os contratos anteriores
a ela -caso dos seguros de Kuchkarian e Paulo.
Segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), as
empresas, que vinham cumprindo os aumentos fixados pelo governo, com isso "ressuscitaram"
reajustes próprios nos contratos
antigos.
A ANS já registra reclamações
contra a Bradesco e a SulAmérica,
que juntas detêm a maior parte do
mercado de 6 milhões de clientes
de seguros-saúde. O setor de saúde suplementar atende hoje 38,2
milhões de pessoas no país.
Segundo o diretor-presidente
da ANS, Fausto Pereira dos Santos, nos últimos dias, próximos da
data de aniversário da maioria
dos contratos antigos, milhares de
pessoas estão recebendo cartas
com propostas de reajustes -120
mil ligadas a uma das empresas
seguradoras, afirma.
Ainda segundo Santos, também
empresas de planos de saúde estão "ressuscitando" aumentos.
"Infelizmente não são só as duas."
Alguns consumidores, como o
médico Paulo, já tinham recusado
uma proposta anterior, de abandonar o contrato antigo por um
adequado à lei atual, o que levaria
a um aumento maior ainda.
O governo ainda não sabe o que
fazer. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do
Ministério da Justiça realiza hoje
uma reunião com a ANS para discutir o assunto. Segundo Santos, a
agência também já solicitou informações à SulAmérica e à Bradesco sobre seus cálculos.
Para a agência, a decisão do Supremo só permite reajustes próprios quando isso estiver expresso em cláusulas contratuais. "O
entendimento nosso é que não
podem fazer reajuste retroativo [à
decisão do STF]", afirma Santos.
No caso de Kuchkarian, a Bradesco Seguros justifica o reajuste
das mensalidades com aumentos
dos custos hospitalares.
"O que temo, e acho que vai ser
comprovado, é que [as empresas]
estão fazendo recuperação de
custos hospitalares de lá atrás.
Com certeza, nada variou 80% a
partir da decisão do STF", disse o
diretor-presidente da ANS. "O
cliente deve buscar explicações da
operadora. Tem de procurar o órgão de defesa do consumidor, juizado de pequenas causas. E tem
de notificar a ANS", afirmou Santos, ao ser questionado sobre como o consumidor deve reagir.
Outra opção, disse, é mudar de
empresa e negociar carências.
Segundo o diretor, no entanto, o
poder de regulação da agência "é
limitado". "O Judiciário cravou
seu entendimento do contrato
[antigo] de forma decisiva."
Caos
André Luiz Lopes dos Santos,
diretor de atendimento do Procon de São Paulo, diz que o órgão
recebeu uma enxurrada de reclamações de clientes de planos nos
últimos dias, mas ainda não tem
um balanço. "Qual a base para fazer esses reajustes estrondosos? É
lamentável, E a ANS lava as mãos,
apesar de termos alertado sobre
isso", afirma. "Diante da situação
caótica, não há outra alternativa a
não ser orientar as pessoas a buscar o Judiciário." O órgão pretende questionar as empresas.
A decisão do Supremo levou a
ANS a estimular um processo em
massa de adequação dos planos
antigos à lei atual, por entender
que ela é mais benéfica na maior
parte dos casos -alguns contratos antigos não cobriam câncer,
por exemplo.
Anteontem, no entanto, a Justiça Federal notificou a ANS da suspensão provisória do processo, o
que traz mais confusão ainda.
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