São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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Moradores ajudam a embalar droga e dão alerta sobre reuniões para contar dinheiro

DA REPORTAGEM LOCAL

Toque de recolher às 22h em alguns trechos, pipas coloridas que rasgam o céu e "deduram" as visitas indesejadas, motos com o escapamento aberto que ecoam nas vielas chamando os traficantes para contar o dinheiro das vendas.
Durante três dias nas duas últimas semanas, a Folha visitou a favela Pedra Sobre Pedra e apurou que a comunidade local não se incomoda com a presença do tráfico nem do PCC.
Parte dela, aliás, até colabora com a facção criminosa, às vezes trabalhando nas casas que embalam drogas. A reportagem viu idosos saindo suados das portas de barracos após fecharem pacotes de maconha.
Noutros momentos, crianças que aparentemente brincavam de pipa tinham uma função: alertar os traficantes sobre a chegada de policiais. O código era dar rasantes com a pipa.
Para entrar na favela, a reportagem teve autorização de membros do partido que controlam a favela mas se encontram em penitenciárias.
Os apelidos de Cara de Gato e Naná são apontados como chefes do local, apesar de estarem presos, segundo moradores.
"Há todo um organograma aqui que vive em torno do tráfico. É um comércio como qualquer outro. Tem suas divisões e subdivisões e todos ganham com isso", afirma Clóvis, que mora lá há 17 anos.
"Qual emprego paga R$ 500 por mês hoje para um adolescente sem grau de instrução? O partido paga até para quem avisa se a polícia chega perto da favela", justifica Samuel.
O respeito pela facção criminosa não é conquistado somente pela doação de leite e alimentos. A central telefônica clandestina, localizada em uma padaria, tem fama de ter grampeado todos os telefones celulares da área. "Ai de quem falar mal do partido", diz. (KT)


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