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Delegacia dá aulas de defesa pessoal a idosos de Copacabana
Inspetor, que é campeão de jiu-jitsu, ensina como colocar os dedos abaixo das narinas do bandido para empurrá-lo
"Mesmo que o professor ressalte que não se deve reagir, há o risco de um idoso querer bancar o super-herói", condena sociólogo
Fernando Donasci/Folha Imagem
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Mulher aplica técnica de defesa pessoal após aulas com policiais, em Copacabana, no Rio
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
Estela Cabral, 60, cinco vezes
assaltada em Copacabana; Yolanda de Souza, 74, já teve os
documentos furtados dentro
de um ônibus; Fernando Polônia, 81, conseguiu escapar de
várias tentativas de assalto.
Moradores do bairro mais famoso da zona sul do Rio e com a
maior concentração de idosos
da cidade, eles se cansaram de
ser o alvo preferencial dos chamados batedores de carteira. E
passaram a frequentar um curso oferecido pela delegacia do
bairro, de defesa pessoal.
Quem dá aulas é o inspetor
Antônio Ferreira, professor de
jiu-jitsu e campeão brasileiro
da modalidade na década de
1990. Embora afirme que a intenção não é incentivar o idoso
a reagir, entre as dicas que ele
ensina está a de, durante uma
abordagem, colocar os dedos
abaixo das narinas para empurrar o bandido. "A pessoa deve
aprender, mas não vai usar isso
em qualquer situação. É como
atirar: não é porque eu aprendi
que vou sair atirando."
O curso começou há duas semanas. São oito aulas de uma
hora de duração (duas vezes
por semana) com parte teórica
e exercícios. Há 17 "inscritos"
nessa primeira turma -alguns
de outros bairros.
"Faço questão de repetir
sempre: ninguém deve reagir
em um assalto. Mas é possível
aprender a cair, por exemplo,
para evitar uma contusão mais
séria", diz Ferreira. Ele inicia
cada aula enumerando comportamentos a serem evitados.
"Enquanto olha uma vitrine,
muita gente esquece a bolsa."
"Moro no bairro há 57 anos e
hoje ele é bem mais perigoso do
que antigamente. Mas agora, se
precisar, vou saber me defender", anuncia Polônia. "Vou repassar as dicas à minha família
toda. Minha neta já foi assaltada várias vezes", diz Yolanda.
"O mais importante do curso
é criar uma relação de confiança entre a polícia e os idosos.
Eles podem nos avisar se tiverem suspeitas", diz o delegado
Antenor Martins Júnior.
Para o coronel Ubiratan Ângelo, ex-comandante da PM do
Rio, aprender noções de defesa
pessoal serve para saber se a situação é propícia para recorrer
a elas. "Quem tem essas noções
consegue avaliar melhor se pode reagir ou não. O homem
também age por instinto, mas
quem tem noções de defesa
consegue ser mais racional."
Para o sociólogo Ignácio Cano, a iniciativa é útil ao oferecer
dicas de prevenção de assaltos,
mas perigosa por dar orientações sobre reação. "Mesmo que
o professor ressalte que não se
deve reagir, sempre há o risco
de um idoso que assistiu à aula
querer bancar o super-herói e
reagir, e isso pode ter consequências graves", afirmou.
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