São Paulo, quinta-feira, 02 de julho de 2009

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Delegacia dá aulas de defesa pessoal a idosos de Copacabana

Inspetor, que é campeão de jiu-jitsu, ensina como colocar os dedos abaixo das narinas do bandido para empurrá-lo

"Mesmo que o professor ressalte que não se deve reagir, há o risco de um idoso querer bancar o super-herói", condena sociólogo


Fernando Donasci/Folha Imagem
Mulher aplica técnica de defesa pessoal após aulas com policiais, em Copacabana, no Rio

FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

Estela Cabral, 60, cinco vezes assaltada em Copacabana; Yolanda de Souza, 74, já teve os documentos furtados dentro de um ônibus; Fernando Polônia, 81, conseguiu escapar de várias tentativas de assalto.
Moradores do bairro mais famoso da zona sul do Rio e com a maior concentração de idosos da cidade, eles se cansaram de ser o alvo preferencial dos chamados batedores de carteira. E passaram a frequentar um curso oferecido pela delegacia do bairro, de defesa pessoal.
Quem dá aulas é o inspetor Antônio Ferreira, professor de jiu-jitsu e campeão brasileiro da modalidade na década de 1990. Embora afirme que a intenção não é incentivar o idoso a reagir, entre as dicas que ele ensina está a de, durante uma abordagem, colocar os dedos abaixo das narinas para empurrar o bandido. "A pessoa deve aprender, mas não vai usar isso em qualquer situação. É como atirar: não é porque eu aprendi que vou sair atirando."
O curso começou há duas semanas. São oito aulas de uma hora de duração (duas vezes por semana) com parte teórica e exercícios. Há 17 "inscritos" nessa primeira turma -alguns de outros bairros.
"Faço questão de repetir sempre: ninguém deve reagir em um assalto. Mas é possível aprender a cair, por exemplo, para evitar uma contusão mais séria", diz Ferreira. Ele inicia cada aula enumerando comportamentos a serem evitados. "Enquanto olha uma vitrine, muita gente esquece a bolsa."
"Moro no bairro há 57 anos e hoje ele é bem mais perigoso do que antigamente. Mas agora, se precisar, vou saber me defender", anuncia Polônia. "Vou repassar as dicas à minha família toda. Minha neta já foi assaltada várias vezes", diz Yolanda.
"O mais importante do curso é criar uma relação de confiança entre a polícia e os idosos. Eles podem nos avisar se tiverem suspeitas", diz o delegado Antenor Martins Júnior.
Para o coronel Ubiratan Ângelo, ex-comandante da PM do Rio, aprender noções de defesa pessoal serve para saber se a situação é propícia para recorrer a elas. "Quem tem essas noções consegue avaliar melhor se pode reagir ou não. O homem também age por instinto, mas quem tem noções de defesa consegue ser mais racional."
Para o sociólogo Ignácio Cano, a iniciativa é útil ao oferecer dicas de prevenção de assaltos, mas perigosa por dar orientações sobre reação. "Mesmo que o professor ressalte que não se deve reagir, sempre há o risco de um idoso que assistiu à aula querer bancar o super-herói e reagir, e isso pode ter consequências graves", afirmou.


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