São Paulo, sábado, 02 de julho de 2011

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Nascimento cai em favelas do Rio e bairros pobres de SP

Estudo aponta menos crianças de zero a quatro anos em grandes áreas carentes

Tendência foi verificada em regiões de baixa renda das duas capitais, mas não significa que a população estagnou


ANTÔNIO GOIS
FABIO GRELLET

DO RIO

A dona de casa Maria José Sousa, 29, que desde os dez anos mora no Complexo do Alemão, área de favelas na zona norte do Rio, tem 11 irmãos, mas apenas um filho.
Ela diz que poderia ter mais, só que teve apenas um para dar mais qualidade de vida a Marcello, 2.
"Minha mãe não tinha informação, não sabia como evitar filhos. Hoje, todo mundo sabe o que fazer. Para ter um monte de filhos, só sendo rico. Eu e meus irmãos passamos dificuldades, e não quero que o Marcello viva a mesma situação", diz Maria.
O relato ajuda a entender um fenômeno no Censo 2010 do IBGE: a população de zero a quatro anos já cai nas maiores favelas do Rio e em distritos pobres paulistanos.
No Rio, pela primeira vez o número de crianças com até quatro anos caiu no Complexo do Alemão (-22%), na Maré (-17%) e na Rocinha (-6%).
Em todas essas favelas, o movimento na década de 90 era de crescimento. Tanto no Rio quanto em São Paulo, considerando todos os bairros, a queda foi de 19%.
Em São Paulo, devido à organização administrativa da cidade, não é possível analisar bairros ou favelas.
Mas a comparação por distrito mostra que mesmo aqueles com baixo Índice de Desenvolvimento Humano já registram queda.
É o caso do Grajaú (-25%), na zona sul, e do Jardim Helena (-33%) ou do Lajeado (-29%), ambos na zona leste.

FECUNDIDADE EM QUEDA
A queda no número de crianças nessas áreas não significa que a população parou de crescer como um todo. Famílias podem se mudar, aumentando ou diminuindo a população nessas áreas.
Na Rocinha, por exemplo, o número de habitantes cresceu 23%, apesar de a população com menos de quatro anos ter caído 6%.
Mas o fenômeno é um forte indício de queda da fecundidade, antes restrita apenas às áreas mais ricas.
O aumento da escolaridade e da renda e um maior acesso a serviços de saúde entre as mulheres mais pobres são causas prováveis dessa diminuição.
O pesquisador do IBGE Gabriel Borges afirma que a queda da fecundidade no país é constante desde a década de 60, mas aconteceu primeiro entre as mulheres mais escolarizadas nos grandes centros urbanos.
"A tendência é de convergência nas taxas, pois, entre os mais ricos, já não há mais espaço para queda porque a média de filhos por mulher já era muito baixa", afirma.


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