São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2007

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Deputados improvisam tradução da caixa-preta após problemas de áudio

Lula Marques/Folha Imagem
A deputada Luciana Genro traduz os diálogos dos pilotos


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Surpreendidos pela revelação dos dados principais da caixa-preta do Airbus da TAM, feita pela Folha ontem, os deputados da CPI do Apagão Aéreo fizeram da divulgação das informações um espetáculo de queixas.
Houve de tudo. De romaria ao cofre da CPI para "comprovar" que não havia vazado nada e até votação para saber se deveriam abrir documentos que eles haviam pedido à Aeronáutica com urgência de 48 horas.
O convidado do dia, brigadeiro Jorge Kersul, teve de esperar quase três horas para começar a falar. Antes disso, ouviu queixas de deputados esclarecendo que eles não poderiam ouvir os diálogos porque o software capaz de fazer a leitura só é disponível nos Estados Unidos. "Quer dizer que trancamos nada no cofre desta Casa. A Aeronáutica fez essa Casa de palhaço", protestou Carlos Willian (PTC-MG).
O clima azedou mesmo quando Kersul informou que a transcrição da conversa entre os pilotos estava em inglês, porque a análise foi feita por técnicos estrangeiros. "Os parlamentares não estão conseguindo se expressarem (sic)", bradou o presidente em exercício da CPI, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tentando acalmar ânimos.
Os deputados foram socorridos pelos colegas bilíngües Luciana Genro (PSOL-RS) e Rocha Loures (PMDB-PR), que se ofereceram para fazer a tradução simultânea.
Resolvido o problema, os deputados souberam que não era possível imprimir o documento por se tratar de um arquivo protegido. Então, projetaram as informações na parede.
A leitura do documento calou a CPI. Ao ouvirem as últimas palavras dos pilotos, com o desespero da situação, os deputados fizeram num acordo tácito um minuto de silêncio. Abatido, o brigadeiro Kersul ficou com os olhos marejados. Mais tarde, em audiência reservada, disse que se fosse piloto hoje só iria se comunicar com o co-piloto por meio de uma prancheta para não permitir que, em caso de acidente, tudo seja divulgado. (ANDREZA MATAIS e LEILA SUWWAN)


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