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Por 3 anos, SP errou estatísticas de crime
Governo do Estado de São Paulo recontou ocorrências desde 2004; administração nega que tenha havido maquiagem
14 crimes foram checados; só três -furtos em geral, furto de veículo e lesão corporal dolosa- mantêm números semelhantes
GILMAR PENTEADO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos últimos três anos, o governo de São Paulo divulgou estatísticas criminais erradas. Somente em crimes patrimoniais
como seqüestro, roubo a banco,
de veículos e de carga, mais de
16 mil ocorrências ficaram de
fora dos dados oficiais.
A imprecisão das estatísticas
é muito maior do que se descobriu em abril deste ano, quando
a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) divulgou números de roubo a banco na capital paulista muito superiores
aos publicados quatro vezes
por ano pela Secretaria da Segurança Pública.
No mês seguinte, o atual secretário Ronaldo Marzagão
anunciou a recontagem das estatísticas desde 2004, inclusive
dados de 2007 já reunidos até
então, mas não divulgados. O
resultado foi anunciado ontem.
A maior parte do período
analisado refere-se à gestão do
ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Saulo de Castro
Abreu Filho era o secretário da
Segurança responsável pela divulgação das estatísticas.
No total, registros de 14 crimes foram recontados pela
CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento), órgão da
secretaria. Em apenas três delitos -furtos em geral, furto de
veículo e lesão corporal dolosa-, os números da recontagem de ocorrências são semelhantes aos antigos (veja quadro acima).
O governo de José Serra
(PSDB) nega que tenha havido
uma tentativa de maquiagem
dos números para diminuir as
estatísticas. Para o coordenador da CAP, Túlio Kahn, que estava no cargo na gestão passada, erros de policiais no preenchimento de boletins de ocorrência, dificuldades de comunicação entre departamentos da
polícia e problemas de envio de
dados por distritos policiais explicam as estatísticas equivocadas. "O processo manual causa
a maior parte dos erros."
A recontagem confirmou que
as ocorrências de roubo a banco foram subestimadas -foram
1.214 casos entre 2004 e o primeiro semestre de 2007, 89% a
mais do que na contagem antiga. A revisão também identificou ocorrências a mais no roubo de carga (45%), de veículo
(3%), seqüestro (8%) e tentativa de homicídio (8%).
Segundo Túlio Kahn, nos casos de roubo a banco, policiais
de distritos abasteceram o sistema informatizado da secretaria com números inferiores aos
boletins de ocorrência registrados. Mesmo assim, Kahn nega
má-fé. "O erro não é linear. É
ora para baixo, ora para cima."
A recontagem dos dados oficiais também revelou estatísticas imprecisas em outros crimes, só que a revisão fez o índice baixar.
O crime de latrocínio (roubo
com a morte da vítima) caiu de
1.300 casos para 1.037, um redução de 20% -o percentual de
queda mais expressivo entre os
14 delitos revisados. Na comparação entre a estatística antiga
e a revisada, o homicídio doloso
registrou queda de 3%, 631
ocorrências a menos.
Segundo Kahn, os números
de latrocínio e homicídio caíram na recontagem porque policiais registraram os crimes de
forma equivocada.
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