São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Por 3 anos, SP errou estatísticas de crime

Governo do Estado de São Paulo recontou ocorrências desde 2004; administração nega que tenha havido maquiagem

14 crimes foram checados; só três -furtos em geral, furto de veículo e lesão corporal dolosa- mantêm números semelhantes

GILMAR PENTEADO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos três anos, o governo de São Paulo divulgou estatísticas criminais erradas. Somente em crimes patrimoniais como seqüestro, roubo a banco, de veículos e de carga, mais de 16 mil ocorrências ficaram de fora dos dados oficiais.
A imprecisão das estatísticas é muito maior do que se descobriu em abril deste ano, quando a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) divulgou números de roubo a banco na capital paulista muito superiores aos publicados quatro vezes por ano pela Secretaria da Segurança Pública.
No mês seguinte, o atual secretário Ronaldo Marzagão anunciou a recontagem das estatísticas desde 2004, inclusive dados de 2007 já reunidos até então, mas não divulgados. O resultado foi anunciado ontem.
A maior parte do período analisado refere-se à gestão do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Saulo de Castro Abreu Filho era o secretário da Segurança responsável pela divulgação das estatísticas.
No total, registros de 14 crimes foram recontados pela CAP (Coordenadoria de Análise e Planejamento), órgão da secretaria. Em apenas três delitos -furtos em geral, furto de veículo e lesão corporal dolosa-, os números da recontagem de ocorrências são semelhantes aos antigos (veja quadro acima).
O governo de José Serra (PSDB) nega que tenha havido uma tentativa de maquiagem dos números para diminuir as estatísticas. Para o coordenador da CAP, Túlio Kahn, que estava no cargo na gestão passada, erros de policiais no preenchimento de boletins de ocorrência, dificuldades de comunicação entre departamentos da polícia e problemas de envio de dados por distritos policiais explicam as estatísticas equivocadas. "O processo manual causa a maior parte dos erros."
A recontagem confirmou que as ocorrências de roubo a banco foram subestimadas -foram 1.214 casos entre 2004 e o primeiro semestre de 2007, 89% a mais do que na contagem antiga. A revisão também identificou ocorrências a mais no roubo de carga (45%), de veículo (3%), seqüestro (8%) e tentativa de homicídio (8%).
Segundo Túlio Kahn, nos casos de roubo a banco, policiais de distritos abasteceram o sistema informatizado da secretaria com números inferiores aos boletins de ocorrência registrados. Mesmo assim, Kahn nega má-fé. "O erro não é linear. É ora para baixo, ora para cima."
A recontagem dos dados oficiais também revelou estatísticas imprecisas em outros crimes, só que a revisão fez o índice baixar.
O crime de latrocínio (roubo com a morte da vítima) caiu de 1.300 casos para 1.037, um redução de 20% -o percentual de queda mais expressivo entre os 14 delitos revisados. Na comparação entre a estatística antiga e a revisada, o homicídio doloso registrou queda de 3%, 631 ocorrências a menos.
Segundo Kahn, os números de latrocínio e homicídio caíram na recontagem porque policiais registraram os crimes de forma equivocada.


Texto Anterior: Após 78 h, chega ao fim rebelião em Salvador
Próximo Texto: Alckmin e Saulo não se manifestam
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.