São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para peritos, pilotos deixaram bomba de combustível ligada

Relatório final sobre queda do Learjet sobre casas na zona norte de SP, que deixou 8 mortos, descarta falha mecânica

Pilotos podem ter esquecido bomba ligada, que continuou a transferir combustível, causando desbalanceamento entre asas, diz militar

Diego Padgurschi - 4.nov.2007/Folha Imagem
Bombeiros trabalham nos escombros de casas atingidas pelo Learjet, na zona norte, em novembro

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O relatório final da investigação do acidente aeronáutico com o Learjet-35A, que matou oito pessoas ao cair sobre casas na zona norte de São Paulo em 4 de novembro de 2007, descarta a possibilidade de ter havido falha mecânica no jato.
O documento informa também que o manual do fabricante do avião foi omisso ao não especificar o limite permitido para o desbalanceamento de combustível entre as asas. Diante disso, o mais provável, informam os peritos da Aeronáutica, é que uma falha humana teria desencadeado a tragédia.
O relatório sobre o acidente será concluído até o fim da próxima semana pelo Seripa (Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), em São Paulo.
O avião caiu após sair do aeroporto do Campo de Marte, também na zona norte.
A distribuição desigual de querosene nas asas -a direita decolou mais pesada que a esquerda-, ocorrida durante o abastecimento no solo, foi determinante para que a tripulação perdesse o controle de vôo e caísse de bico, matando os dois pilotos e seis moradores.
O chefe do Seripa, o tenente-coronel da Aeronáutica Ricardo Hein, afirma que "os pilotos podem ter esquecido de desligar a bomba que continuou a transferir combustível da asa esquerda para a direita, provocando um desbalanceamento".
Na ocasião, foi acionada no Learjet a bomba do tanque da asa dianteira esquerda, responsável pela transferência de querosene para a asa direita.
O modelo 35A tem dois tanques em cada asa. Cada uma recebeu 500 litros de querosene -28 a mais que o recomendado no manual do jato, que, porém, não especifica o nível de desbalanceamento tolerado.
A primeira asa a ser abastecida foi a esquerda. Durante três minutos, 120 litros de querosene foram transferidos dela para a direita. A asa esquerda decolou com 380 litros e a direita, abastecida com 500 litros, ganhou cerca de 120 litros, totalizando ao menos 620.

Manual
Durante a investigação, o Seripa informa que não encontrou nenhum problema mecânico contundente que sugira que a bomba falhou.
Alguns dos sons que aparecem na caixa-preta seriam o do funcionamento da bomba da asa com o barulho de motores, o que indica que a bomba de transferência de combustível continuou a funcionar após a decolagem.
De acordo com Hein, o relatório, que será discutido nesta próxima semana antes de ser concluído, responderá a todas as dúvidas, inclusive sobre quem acionou o comando.
Durante as investigações, o Seripa verificou que o manual do fabricante do Learjet é omisso sobre o limite de desbalanceamento de combustível. "Todos os aviões que voei até hoje têm limite lateral de peso. Esse me chamou a atenção por não ter nada disso no seu manual", afirmou Hein.
Indagado se os pilotos Paulo Montezuma Firmino, 39, e o co-piloto Alberto Soares Júnior, 24, mortos no acidente, poderiam ter ignorado o limite de combustível por conta do manual não ser específico, o chefe do Seripa disse que, "apesar de não estar escrito no manual, era natural que os pilotos tivessem bom senso e raciocínio de desbalanceamento".
Segundo Hein, 200 quilos ou 500 litros seriam a diferença tolerável de combustível de uma asa a outra para não haver desbalanceamento. "Vamos recomendar ou pedir ao fabricante para fazer isso constar no seu manual a partir de agora."
A Folha não conseguiu localizar um representante da Learjet para comentar as informações do relatório.

Cenipa
O relatório de investigação será redigido após 8 de agosto. O Seripa aguarda a análise do NTSB (National Transportation Safety Board, agência que investiga acidentes da aviação civil nos EUA) sobre o relatório parcial do acidente com o Learjet para redigir a versão final.
Encerrada essa etapa, o documento será encaminhado ao Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), em Brasília, para apreciação.
"Caberá a eles analisar nosso parecer e emitir o relatório final", disse Hein.


Texto Anterior: Há 50 anos
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.