São Paulo, domingo, 02 de agosto de 2009

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Um pedaço do Congo no Rio

Congoleses que fugiram da guerra civil preferem deixar seu país para morar em favelas cariocas, sem família e sem emprego

FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

Terça-feira, 20h. Falta espaço na pequena igreja onde dezenas de africanos prestigiam o culto celebrado pelo pastor congolês Laza Ndosi. O idioma é lingala, falado em vários países da África. Após o sermão, um coral canta músicas religiosas em lingala.
A cena, que se repete toda semana, não ocorre em nenhum país africano, mas na favela Cinco Bocas, em Brás de Pina, bairro da zona norte carioca que concentra boa parte dos 286 congoleses que trocaram o país de origem -palco de violentos massacres devido à guerra civil que se estende há anos- pelo Rio. O número é da Caritas, ONG ligada à Igreja Católica que ajuda refugiados.
Segundo o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), órgão do Ministério da Justiça, 364 congoleses vivem hoje no Brasil como refugiados.
Para ser refugiado, o estrangeiro precisa comprovar ser vítima de perseguição em seu país ou que morava numa região onde ocorre grave violação dos direitos humanos. A partir daí, recebe auxílio da ONU, do governo brasileiro e de ONGs.
Sem falar português (a língua oficial do Congo é o francês), sem trabalho, sem família -a maioria fugiu sozinha-, resta aos africanos se instalar numa região que ao menos concentre pessoas da mesma origem.
Mas um dos principais motivos para se instalar em Brás de Pina é a falta de dinheiro. "Na favela ninguém paga água nem eletricidade", diz o pastor. Mas Brás de Pina não é exatamente um lugar sossegado. "Os tiroteios eram tão comuns que decidi me mudar", diz Prudence Libonza, 28, que vive em Duque de Caxias (a 35 km do Rio).


Colaborou PEDRO CARRILHO , repórter fotográfico


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