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Um pedaço do Congo no Rio
Congoleses que fugiram da guerra civil preferem deixar seu país para morar em favelas cariocas, sem família e sem emprego
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
Terça-feira, 20h. Falta espaço na pequena igreja onde dezenas de africanos prestigiam o
culto celebrado pelo pastor
congolês Laza Ndosi. O idioma
é lingala, falado em vários países da África. Após o sermão,
um coral canta músicas religiosas em lingala.
A cena, que se repete toda semana, não ocorre em nenhum
país africano, mas na favela
Cinco Bocas, em Brás de Pina,
bairro da zona norte carioca
que concentra boa parte dos
286 congoleses que trocaram o
país de origem -palco de violentos massacres devido à guerra civil que se estende há anos-
pelo Rio. O número é da Caritas, ONG ligada à Igreja Católica que ajuda refugiados.
Segundo o Conare (Comitê
Nacional para os Refugiados),
órgão do Ministério da Justiça,
364 congoleses vivem hoje no
Brasil como refugiados.
Para ser refugiado, o estrangeiro precisa comprovar ser vítima de perseguição em seu
país ou que morava numa região onde ocorre grave violação
dos direitos humanos. A partir
daí, recebe auxílio da ONU, do
governo brasileiro e de ONGs.
Sem falar português (a língua
oficial do Congo é o francês),
sem trabalho, sem família -a
maioria fugiu sozinha-, resta
aos africanos se instalar numa
região que ao menos concentre
pessoas da mesma origem.
Mas um dos principais motivos para se instalar em Brás de
Pina é a falta de dinheiro. "Na
favela ninguém paga água nem
eletricidade", diz o pastor. Mas
Brás de Pina não é exatamente
um lugar sossegado. "Os tiroteios eram tão comuns que decidi me mudar", diz Prudence
Libonza, 28, que vive em Duque
de Caxias (a 35 km do Rio).
Colaborou PEDRO CARRILHO ,
repórter fotográfico
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