São Paulo, domingo, 02 de agosto de 2009

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Depois de morar na rua, campeã de judô vira babá

DA SUCURSAL DO RIO

Eureka Bokufe tinha 20 anos quando se tornou campeã nacional de judô do Congo na categoria até 57 quilos. Como prêmio, foi convidada a viajar ao Brasil para disputar o campeonato mundial da modalidade, em setembro de 2007.
Ela sabia que uma guerra civil assolava seu país, mas nunca havia presenciado um confronto -nenhum havia ocorrido na região onde ela morava.
A poucos dias do embarque, a euforia pela primeira viagem internacional foi interrompida por guerrilheiros que invadiram a cidade onde morava. Na casa de Eureka, eles obrigaram a judoca a manter relação sexual com o próprio irmão, da mesma faixa etária.
"Fiquei apavorada. Na região onde eu morava, as pessoas nem beijavam na boca em público", conta Eureka.
Com estradas interrompidas, não chegou à capital do Congo a tempo de embarcar com sua delegação para o Brasil. Mesmo atrasada, viajou sozinha.
"No avião, conheci um africano que me deixou com medo do Rio, dizendo que havia muito ladrão aqui. Ele se ofereceu para cuidar dos meus documentos e do meu dinheiro. Quando desembarquei fiquei muito surpresa. Nunca tinha visto pessoas brancas, a não ser no avião. E no aeroporto havia mulheres com roupas muito curtas. Fiquei olhando e o africano fugiu com minhas coisas."
Sem dinheiro nem documentos, chorando, Eureka pediu ajuda a outras pessoas, e um estrangeiro a avisou que em Brás de Pina havia muitos africanos. Foi até lá, mas não teve abrigo -a hospedaria mantida pela Caritas era só para homens. "Fiquei dormindo na rua, na escadaria de uma igreja", conta Eureka, que procurou os colegas judocas, mas soube que tinham voltado para o Congo.
Após alguns dias, Eureka foi adotada por uma africana que deixa os filhos sob seus cuidados. "Trabalho como babá e não recebo nada, mas moro e como de graça", diz.
Com raras notícias dos familiares no Congo, Eureka sonho em voltar a treinar judô, mas não consegue dinheiro.


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