|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sindicalista fugiu sem saber para onde navio estava indo
DA SUCURSAL DO RIO
"Eu era chefe de família e
sustentava mulher e filhos. Hoje me sinto uma criança. Dependo do dinheiro dos outros
para comer e até para tomar
ônibus, porque não tenho nem
R$ 2,20. Mas, se estivesse no
Congo, não estaria vivo."
Estevan (nome fictício, pois
ele preferiu não dar o verdadeiro), 51, resume assim seus sentimentos. Ex-presidente de um
sindicato de portuários que fora comandado por seu pai e seu
avô, foi perseguido no Congo.
Antes de sua casa ser invadida, Estevan fugiu pelo telhado.
Depois soube que a mulher
morreu na hora da invasão, vítima de um ataque cardíaco.
Auxiliado por amigos, fugiu
do país embarcando clandestinamente em um navio. Mas
nem imaginava para onde iria.
"Quando a viagem terminou,
saí e me misturei aos estivadores. Chegaram a perceber que
eu era clandestino, mas alguns
desconhecidos me ajudaram."
Só quando não havia mais
risco de ser preso, perguntou
onde tinha ido parar. "Me disseram que eu estava no maior
porto do Brasil", relembra. Era
Santos (a 72 km de SP).
Estevan foi à rodoviária e conheceu um pastor carioca residente em Santos. "Ele me contou que no Rio havia uma comunidade grande de africanos,
e então vim pra cá."
Atualmente hospedado no
abrigo da Caritas em Brás de Pina, Estevan chegou ao Brasil
em 2006, e só há duas semanas
conseguiu seu primeiro emprego: das 2h às 11h entrega legumes em restaurantes do Rio.
"Sonho fazer faculdade de
gastronomia e trabalhar com
isso no Brasil", conta ele, que
encara o emprego recente como "um estágio" para a atuação
como chef de cozinha.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|