São Paulo, domingo, 02 de agosto de 2009

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"Sabia que eu seria morta se não fugisse"

DA SUCURSAL DO RIO

Prudence Libonza trabalhava como secretária no setor de protocolo da Presidência da República do Congo, em 2007, quando conheceu um dos líderes da oposição ao governo. Eles logo começaram o namoro. Influenciada pelo namorado, virou espiã.
"Passei a colher informações sobre o governo para passar a ele, e fiz até escuta telefônica em telefones de gabinetes", conta. "Eu gostava dele e ele de mim, nosso namoro não era só uma questão de conveniência. Mas ele ajudava minha ONG", diz Prudence, que também comandava uma entidade para auxiliar mães solteiras.
Após alguns meses, quando o namoro já havia rendido uma gravidez, a espionagem foi descoberta. "Sabia que eu seria morta se não fugisse." Ela viajou de barco até Angola, onde passou alguns meses. "Mas havia acordo entre os governos. Se eu fosse descoberta lá, seria enviada de volta para o Congo."
A solução foi oferecida por um amigo, piloto de avião. Ele conseguiu o passaporte de outra mulher e entregou-o a Prudence, que embarcou rumo ao Brasil com o documento. Ao desembarcar no aeroporto Tom Jobim, conheceu uma angolana que comentou sobre a concentração de africanos em Brás de Pina. A ex-espiã começou, então, a reconstruir a vida.
Primeiro, em 2008, deu à luz sua filha, brasileira. Simultaneamente, conseguiu ser aceita como refugiada. Depois, teve que aprender a língua portuguesa e procurar emprego.
"Ninguém quer empregar alguém que tem um documento onde está escrito "refugiada". Além disso, eu ainda não falo português direito", diz Prudence, desempregada.
"A saída é fazer bicos. No prédio da Central do Brasil (centro) tem muitos congoleses que trabalham como cabeleireiros", diz a moça, que recebe R$ 530 mensais da ONU.


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