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"Sabia que eu seria morta se não fugisse"
DA SUCURSAL DO RIO
Prudence Libonza trabalhava como secretária no setor de
protocolo da Presidência da
República do Congo, em 2007,
quando conheceu um dos líderes da oposição ao governo.
Eles logo começaram o namoro. Influenciada pelo namorado, virou espiã.
"Passei a colher informações
sobre o governo para passar a
ele, e fiz até escuta telefônica
em telefones de gabinetes",
conta. "Eu gostava dele e ele de
mim, nosso namoro não era só
uma questão de conveniência.
Mas ele ajudava minha ONG",
diz Prudence, que também comandava uma entidade para
auxiliar mães solteiras.
Após alguns meses, quando o
namoro já havia rendido uma
gravidez, a espionagem foi descoberta. "Sabia que eu seria
morta se não fugisse." Ela viajou de barco até Angola, onde
passou alguns meses. "Mas havia acordo entre os governos.
Se eu fosse descoberta lá, seria
enviada de volta para o Congo."
A solução foi oferecida por
um amigo, piloto de avião. Ele
conseguiu o passaporte de outra mulher e entregou-o a Prudence, que embarcou rumo ao
Brasil com o documento. Ao
desembarcar no aeroporto
Tom Jobim, conheceu uma angolana que comentou sobre a
concentração de africanos em
Brás de Pina. A ex-espiã começou, então, a reconstruir a vida.
Primeiro, em 2008, deu à luz
sua filha, brasileira. Simultaneamente, conseguiu ser aceita
como refugiada. Depois, teve
que aprender a língua portuguesa e procurar emprego.
"Ninguém quer empregar alguém que tem um documento
onde está escrito "refugiada".
Além disso, eu ainda não falo
português direito", diz Prudence, desempregada.
"A saída é fazer bicos. No prédio da Central do Brasil (centro) tem muitos congoleses que
trabalham como cabeleireiros", diz a moça, que recebe R$
530 mensais da ONU.
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