São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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MASSACRE NO CENTRO

Polícia tenta identificar ligações que se repetem nos dois dias de ataques; inquérito fica agora em segredo

Justiça quebra sigilo de celulares na Sé

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça paulista determinou ontem que as empresas de telefonia móvel forneçam à Polícia Civil, em até 72 horas, a relação de ligações telefônicas feitas e recebidas por aparelhos celulares que estavam na região da praça da Sé nas madrugadas dos dias 19 e 22, quando ocorreram os ataques a moradores de rua de São Paulo.
Essas informações ficam armazenadas nas subestações de transmissão do centro. Além de dados do celular utilizado na região, o banco de dados inclui o número do aparelho que falou com o telefone móvel -independentemente de quem fez a ligação-, a hora e a duração da chamada.
A polícia solicitou os dados das 2h às 5h30. A intenção é saber se há ligações que se repetem, nesse período, nos dois dias de ataques.
Cada subestação de transmissão atende a um raio de cerca de um quilômetro. Por isso, se as antenas da praça da Sé não incluírem todos os locais das agressões, devem ser encaminhados também dados de outras subestações.
A ordem de rastreamento dos celulares é assinada pelo juiz Rui Porto Dias, da 1ª Vara do Júri, atendendo a um pedido do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Como a medida quebra parcialmente o sigilo telefônico de pessoas que estavam no centro, mas que nada têm a ver com o crime, Porto Dias decidiu decretar sigilo do inquérito que investiga o caso.
Os ataques aos moradores de rua do centro deixaram seis mortos e nove feridos. A maior parte foi vítima de pauladas na cabeça. O segredo de Justiça visa também dar alguma garantia a eventuais testemunhas dos crimes e, então, motivá-las a procurar a polícia.

Cerco aos guardas
O rastreamento do banco de dados das subestações de telefonia -chamadas ERBs (Estações Rádio-Base)- foi pedido no mesmo dia em que o DHPP solicitou à Secretaria Municipal de Segurança Urbana fotos, fichas funcionais e endereços residenciais dos guardas-civis que trabalham de dia no centro de São Paulo. O pedido inclui também informações obre os carros oficiais que utilizam, incluindo itinerários de rondas.
A Prefeitura de São Paulo informou que a solicitação atinge cerca de 240 dos seus 6.200 homens e que deve levar até cinco dias para encaminhar os dados à polícia.
Na última segunda-feira, o DHPP recebeu as mesmas informações referentes aos 134 guardas que trabalharam na região central na madrugada do dia 19, primeiro dia dos ataques.
As medidas anunciadas ontem pela Justiça e pela Polícia Civil indicam que a linha de investigação que aponta para a participação de guardas no massacre dos moradores de rua é de fato a mais avançada no DHPP, exatamente como informou à Folha, no começo da semana, o delegado-geral adjunto Luiz Carlos dos Santos.
"Há a investigação em cima de quem usa uniforme porque algumas pessoas citaram isso. Não estamos acusando a GCM. Existe vigilância particular, metrô etc. Mas eu volto a afirmar: há uma investigação, sim, em cima da guarda. Não tenho motivos para negar. E podemos pedir dados dos outros assim que tivermos um indício mais definitivo, como no caso da guarda. Você quer saber se a [frente] da guarda está mais adiantada? Sim, está."

Investigação paralela
No Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), porém, a tese é outra. O órgão não foi oficialmente escalado para ajudar nas investigações, mas, na última segunda-feira, prendeu um ajudante de produção acusado de ter agredido um morador de rua no último dia 12.
Apesar de Ivanildo Ferreira da Silva, a vítima, ter sofrido apenas um corte na cabeça, o acusado, Elias Carlos Barbosa da Silva, 29, teve a prisão decretada por tentativa de homicídio. Barbosa diz -e testemunhas confirmam- que os dois brigaram porque Ferreira tentou roubar um maço de cigarros de sua mulher.
O Deic, porém, mandou analisar o sangue encontrado na barra de ferro que Barbosa usou na agressão, pois suspeita que o instrumento possa ter sido utilizado em outros ataques no centro.
O departamento diz ainda que o acusado tem um amigo que seria muito parecido com um dos homens dos retratos falados feitos pela polícia a partir de descrições dos autores do massacre.
Hoje, o DHPP vai ouvir funcionários de empresas que prestam serviços à noite nas ruas do centro e PMs que prestaram socorro às vítimas dos ataques.


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