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MASSACRE NO CENTRO
Polícia tenta identificar ligações que se repetem nos dois dias de ataques; inquérito fica agora em segredo
Justiça quebra sigilo de celulares na Sé
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça paulista determinou
ontem que as empresas de telefonia móvel forneçam à Polícia Civil, em até 72 horas, a relação de ligações telefônicas feitas e recebidas por aparelhos celulares que
estavam na região da praça da Sé
nas madrugadas dos dias 19 e 22,
quando ocorreram os ataques a
moradores de rua de São Paulo.
Essas informações ficam armazenadas nas subestações de transmissão do centro. Além de dados
do celular utilizado na região, o
banco de dados inclui o número
do aparelho que falou com o telefone móvel -independentemente de quem fez a ligação-, a hora
e a duração da chamada.
A polícia solicitou os dados das
2h às 5h30. A intenção é saber se
há ligações que se repetem, nesse
período, nos dois dias de ataques.
Cada subestação de transmissão atende a um raio de cerca de
um quilômetro. Por isso, se as antenas da praça da Sé não incluírem todos os locais das agressões,
devem ser encaminhados também dados de outras subestações.
A ordem de rastreamento dos
celulares é assinada pelo juiz Rui
Porto Dias, da 1ª Vara do Júri,
atendendo a um pedido do DHPP
(Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa).
Como a medida quebra parcialmente o sigilo telefônico de pessoas que estavam no centro, mas
que nada têm a ver com o crime,
Porto Dias decidiu decretar sigilo
do inquérito que investiga o caso.
Os ataques aos moradores de
rua do centro deixaram seis mortos e nove feridos. A maior parte
foi vítima de pauladas na cabeça.
O segredo de Justiça visa também
dar alguma garantia a eventuais
testemunhas dos crimes e, então,
motivá-las a procurar a polícia.
Cerco aos guardas
O rastreamento do banco de dados das subestações de telefonia
-chamadas ERBs (Estações Rádio-Base)- foi pedido no mesmo dia em que o DHPP solicitou à
Secretaria Municipal de Segurança Urbana fotos, fichas funcionais
e endereços residenciais dos guardas-civis que trabalham de dia no
centro de São Paulo. O pedido inclui também informações obre os
carros oficiais que utilizam, incluindo itinerários de rondas.
A Prefeitura de São Paulo informou que a solicitação atinge cerca
de 240 dos seus 6.200 homens e
que deve levar até cinco dias para
encaminhar os dados à polícia.
Na última segunda-feira, o
DHPP recebeu as mesmas informações referentes aos 134 guardas que trabalharam na região
central na madrugada do dia 19,
primeiro dia dos ataques.
As medidas anunciadas ontem
pela Justiça e pela Polícia Civil indicam que a linha de investigação
que aponta para a participação de
guardas no massacre dos moradores de rua é de fato a mais avançada no DHPP, exatamente como
informou à Folha, no começo da
semana, o delegado-geral adjunto
Luiz Carlos dos Santos.
"Há a investigação em cima de
quem usa uniforme porque algumas pessoas citaram isso. Não estamos acusando a GCM. Existe vigilância particular, metrô etc. Mas
eu volto a afirmar: há uma investigação, sim, em cima da guarda.
Não tenho motivos para negar. E
podemos pedir dados dos outros
assim que tivermos um indício
mais definitivo, como no caso da
guarda. Você quer saber se a
[frente] da guarda está mais
adiantada? Sim, está."
Investigação paralela
No Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), porém, a tese é outra. O
órgão não foi oficialmente escalado para ajudar nas investigações,
mas, na última segunda-feira,
prendeu um ajudante de produção acusado de ter agredido um
morador de rua no último dia 12.
Apesar de Ivanildo Ferreira da
Silva, a vítima, ter sofrido apenas
um corte na cabeça, o acusado,
Elias Carlos Barbosa da Silva, 29,
teve a prisão decretada por tentativa de homicídio. Barbosa diz
-e testemunhas confirmam-
que os dois brigaram porque Ferreira tentou roubar um maço de
cigarros de sua mulher.
O Deic, porém, mandou analisar o sangue encontrado na barra
de ferro que Barbosa usou na
agressão, pois suspeita que o instrumento possa ter sido utilizado
em outros ataques no centro.
O departamento diz ainda que o
acusado tem um amigo que seria
muito parecido com um dos homens dos retratos falados feitos
pela polícia a partir de descrições
dos autores do massacre.
Hoje, o DHPP vai ouvir funcionários de empresas que prestam
serviços à noite nas ruas do centro
e PMs que prestaram socorro às
vítimas dos ataques.
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