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Golpistas fraudam registro de morte para obter seguro
Quantidade de indenizações por morte no trânsito é maior do que os registros oficiais
Diferença supera os 50% e há suspeita de que os desembolsos fraudulentos ultrapassem os R$ 20 milhões em um só ano
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A quantidade de indenizações pagas por mortes no trânsito disparou, passou a superar
em mais de 50% os registros
oficiais desse tipo de ocorrência no Brasil e há uma suspeita
de que os desembolsos fraudulentos ultrapassem a marca de
R$ 20 milhões em um só ano.
O quadro faz parte das contas
do DPVAT, seguro obrigatório
pago anualmente pelos donos
de veículos para indenizar as
vítimas de acidentes viários.
Os dados do Ministério da
Saúde mostram uma variação
entre 30 mil e 36 mil mortes no
trânsito por ano no Brasil. Já as
indenizações pagas por esse
mesmo motivo superaram 55
mil em 2005, ficaram próximas
de 64 mil em 2006 e seguem
nesse patamar em 2007.
Os números reascenderam a
preocupação com as fraudes no
recebimento de indenizações
do seguro. Golpistas falsificam
documentos e conseguem alteração das causas das mortes para ganhar até R$ 13.500 de cada
suposta vítima. Há relatos de
certidões de óbito feitas em nome de pessoas vivas ou fictícias.
É o caso de Nadir Prado de
Oliveira, 57, uma andarilha,
que sofre de esquizofrenia. Sua
morte foi anunciada a familiares por golpistas -houve até
enterro com caixão lacrado. Semanas depois, ela apareceu.
"Para obter a indenização,
tentam transformar em acidente de trânsito até quem caiu
de uma árvore", diz Ricardo Xavier, diretor do convênio do
DPVAT, cujos pagamentos são
gerenciados pela Fenaseg (federação das seguradoras).
Cálculos da Folha avalizados
pela Fenaseg indicam que ao
menos R$ 20 milhões foram
gastos em 2006 com indenizações sob suspeita de fraude.
O valor corresponde a quase
um terço do montante do Funset (fundo de multas destinado
à segurança e educação de
trânsito) empenhado pelo governo federal no ano passado.
Eles são baseados em indicativos de amostragem da Fenaseg, pelos quais 2,6% dos valores do seguro obrigatório solicitados tinham sinais de golpe
-e em quase oito de dez casos
eles acabam pagos mesmo assim, por falta de comprovação
das fraudes em tempo hábil.
Subnotificações
Especialistas avaliam também que as estatísticas refletem a existência de subnotificações oficiais e a indicação de
que a insegurança no trânsito é
um problema mais grave do
que é divulgado -e que pode se
assemelhar mais de patamares
africanos do que europeus.
A diferença entre indenizações e registros oficiais de mortes já ultrapassava 18 mil no
acumulado de 2000 a 2004.
Desde então, houve um salto de
84% no recebimento do seguro
por morte. Isso mesmo considerando que muita gente não
tem até hoje conhecimento
desse direito nem reivindica os
pagamentos -que podem ser
feitos nos casos de morte, invalidez ou de gastos médicos.
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