São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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Garoto morre, e família acusa colegas de classe

Parentes do jovem dizem que ele morreu depois de ser espancado na escola

Corte de cabelo motivou violência, afirma a mãe; direção de colégio nega que tenha ocorrido agressão em suas dependências

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

No último dia 20, Samuel Teles da Conceição, 17, recebeu tapas e socos na escola em que estudava, em Silva Jardim (a 130 km do Rio), por ter aparecido com o cabelo cortado, numa "brincadeira" conhecida como "selinho". No sábado passado, morreu num hospital carioca com uma lesão grave na cabeça.
A família do adolescente vê relação entre os dois fatos e afirma que ele foi espancado. A direção da escola municipal Professora Vera Lúcia Pereira Coelho nega que tenha ocorrido, em suas dependências, uma briga com tamanha violência.
"Meu filho não gostava do cabelo grande, mas quando foi cortar falou que estava com medo porque os meninos iam bater nele", contou a dona-de-casa Dalciléia Esperança.
De acordo com a família, Samuel foi espancado por colegas durante a aula de matemática, quando a professora se ausentou da sala. Naquele dia, contou à mãe do "selinho" e se queixou de dor de cabeça, mas não falou de nenhuma agressão violenta.
Mesmo assim, Esperança foi ao colégio na sexta-feira para reclamar do ocorrido. Cinco alunos foram advertidos e tiveram que comparecer à escola acompanhados dos pais, na segunda-feira seguinte, dia 25.
Na terça-feira, um funcionário da escola notou que Samuel estava inchado e tremendo. A direção procurou a mãe do estudante, que foi levado à Policlínica Municipal Agnaldo de Moraes. Lá, segundo Esperança, ele foi diagnosticado com problemas renais e medicado porque urinava sangue.
Nos dias seguintes, seu estado de saúde piorou. "Ele foi ficando todo mole. Passava o dia deitado", disse a mãe.
Na sexta-feira passada, ela voltou à policlínica. Dessa vez, os médicos constataram que o problema era grave. O secretário de Saúde da cidade, Isaías Ferreira da Silva, não quis comentar o caso ontem.
Diante do quadro, Samuel foi transferido para o hospital estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, zona norte do Rio. Uma tomografia confirmou a gravidade da situação.
Foi quando, segundo a mãe, ele revelou a força da agressão. "Ele me olhou e disse: "Foi muita pancada, mãe'", contou.
Nesse dia, ele teve morte cerebral. No sábado, seu coração parou de bater. Segundo o Instituto Médico Legal, a causa da morte foi contusão no crânio e meningoencefalite purulenta.
Segundo Patrícia Teles da Silva, prima de Samuel, o estudante chegou a dizer à mãe que as dores eram motivadas pela vacina contra rubéola que tomara dias antes. Aos primos, disse que foi picado por um marimbondo.
A escola negou que o estudante tenha sido agredido em sala de aula. A professora de matemática Isabel Mello afirmou ter se ausentado por menos de cinco minutos no dia 20, para beber água. Disse que deixou os alunos fazendo exercícios e que, quando retornou, não havia sinal de briga. "O tapinha do "selinho" pode ter tido, mas não um espancamento como estão falando", disse. "Os professores das salas vizinhas teriam ouvido e a sala não estaria tão calma no meu retorno."
O caso será investigado pela 120ª DP, de Silva Jardim.


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