São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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NOVA ESTAMPA

Obras em imóveis como o edifício Itália vêm a reboque de políticas públicas para recuperar áreas degradadas

Moradores reformam prédios do centro

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é preciso andar muito pelo centro de São Paulo para achar um prédio em reforma. Moradores e empresários da região colocaram mãos à obra e estão pintando fachadas, recuperando janelas e conservando entradas.
Um dos principais símbolos da capital, o edifício Itália é um dos que estão quase prontos. No mês que vem, a fachada deverá ser entregue totalmente restaurada. Além da reforma dos 21 mil m2 do revestimento externo, foi feita a limpeza nas valetas que controlam a entrada e a saída de luz.
Em frente ao prédio, o condomínio residencial São Luís também acabou de recuperar sua fachada principal, de argamassa tipo travertina. Os moradores estão juntando recursos para a próxima fase do projeto.
A iniciativa de moradores de ajudar a revitalizar o centro já chegou à ""cracolândia", a mais degradada do centro da capital.
Depois que a prefeitura resolveu combater o tráfico de drogas na região e declarar que 14 quarteirões são de utilidade pública -ou seja, passíveis de desapropriação-, Suely Godói de Paula decidiu pintar sua pensão.
"Há oito anos eu não fazia nada no prédio porque nem dava gosto. A fachada daqui não durava", conta. "Mas agora a região melhorou, e faço a pintura com prazer. Também quero deixar minha rua bonita." A pensão de Suely foi construída pelo arquiteto Ramos de Azevedo há 97 anos.
No Centro Cultural Banco do Brasil, os funcionários sabem de cor que o edifício de cinco andares foi construído em 1901 e é um dos mais importantes representantes da arquitetura brasileira do começo do século 20.
Comprado pelo banco em 1927, foi a primeira agência da cidade. Em 2001, as estruturas internas externas foram restauradas e, agora, a fachada passa por manutenção. Até o dia 10, a limpeza e a aplicação de verniz para proteger as pedras deverão estar prontas.

Valorização
Já os prédios das ruas São Francisco e Ana Cintra que estão cobertos por telas passam por grandes reformas. Além de estarem sendo recuperados, abrigarão moradias populares a partir de 2006.
"Moradores e empresários perceberam que dá retorno investir no imóvel e estão gastando mais dinheiro com eles", afirma o presidente-executivo da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida. "É interessante perceber que agora vários prédios residenciais começam a se preocupar com restaurações."
Para o secretário municipal de Serviços e subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, os habitantes da região central perceberam que a recuperação da área, um projeto também de Marta Suplicy (PT), é uma realidade irreversível. "Eles se sentem mais confiantes para investir e acabam se envolvendo com os projetos", diz. "Quando alguém vê a rua limpa, a iluminação funcionando, a praça bem cuidada e o vizinho pintando seu imóvel, passa a querer participar." Matarazzo também acredita que a liberação de mais recursos ajuda a aumentar o número de obras.
Francisco Zorzete, proprietário da Companhia de Restauro e responsável por várias revitalizações do centro, como a da praça Ramos de Azevedo, discorda: "O governo deveria ajudar mais nas restaurações. Acho que ainda há pouco incentivo". Para ele, as reformas estão ocorrendo porque boa parte dos prédios da região é do início do século passado e agora está completando cem anos.
"Os edifícios chegaram a uma situação de falência e precisam ser recuperados", diz. "Essa é uma obrigação de condôminos e donos dos imóveis, que começam a perceber a importância de manter o patrimônio da cidade."
Além das fachadas, é possível encontrar obras em alguns outros pontos do centro, como na praça da República. O local está sendo recuperado e, por isso, ficará cercado para evitar roubo de materiais de construção.
Já as obras de revitalização de calçadas como as das ruas Líbero Badaró e Augusta, devem começar ainda neste mês.


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