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Família de bebê ainda espera por um milagre
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Mulher, não vejo a hora de
chegar aí!" Essa foi última mensagem deixada por Fabiana
Grangeiro Calandrini, 32, no
Orkut da irmã, Taiana. Quatro
dias depois, a caminho da terra
natal, a Paraíba, ela e o filho
Ariano, 1, estariam entre as 155
vítimas do vôo 1907.
Médica radiologista, Fabiana, 32, mora com o filho e o marido, o também radiologista
Denis Calandrini, em Manaus.
Na última sexta-feira, ela embarcou com o garoto e a babá,
Antonia Carla Oliveira, para
Brasília. De lá, seguiriam para
Esperança (PA), onde mora a
família de Fabiana.
No próximo sábado, ela e o
marido seriam padrinhos de
casamento de Matias, o irmão
caçula da médica. A cerimônia
foi adiada. Anteontem, Matias,
o irmão Renato e dois tios seguiram para Brasília, onde se
juntaram a Denis à espera de
notícias de Fabiana e Ariano.
Desde que soube do acidente
aéreo, a família da médica, majoritariamente católica, está
em vigília, rezando para que um
milagre aconteça. Um milagre
como o que fez com que Ariano,
nascido aos seis meses de gestação, sobrevivesse ileso.
"Ela lutou tanto para ter o filho. Não é justo que se vão desse jeito. Ainda não perdemos a
fé de que ela e Ariano estejam
vivos. Até que se prove o contrário, para nós eles estão vivos", diz a prima Nina Honorata, 27, que, junto com os demais
familiares, acompanha as notícias da tragédia em Esperança.
Segundo ela, os pais e a irmã da
médica estavam sedados, sem
condições de dar entrevista.
"Não estou acreditando no
que estão dizendo na TV. Fico o
tempo todo procurando notícias de sobreviventes", comentou a amiga Gisélia. "Ainda há
esperanças, ela deve estar à espera de ajuda. Ainda não acabaram as buscas", completou outra amiga, Adriana Siqueira.
Segundo Nina, Fabiana é
uma pessoa "impossível de não
amar". "Ela é muito querida
por todos. Estava radiante com
a maternidade e com a vida em
Manaus", diz ela.
Faculdade de medicina
Formada pela Faculdade de
Medicina de Campina Grande,
na Paraíba, Fabiana conheceu
Denis quando fazia residência
médica no Hospital Ipiranga,
em São Paulo. Casaram-se após
dois anos de namoro, moraram
alguns meses em Campina
Grande e, há seis meses, viviam
em Manaus.
"É um casal apaixonado, feito
um para o outro. O Denis só
tem a ela e ao filho. Tanto o pai
como a mãe dele morreram de
câncer. Não posso nem imaginar ele perder agora a mulher e
o filho", relata Nina.
No ensino fundamental e
médio, Fabiana foi aluna do
Colégio das Damas, uma tradicional instituição católica de
Campina Grande. Ali decidiu
ser médica e ganhou dos amigos o carinhoso apelido de "Foca". Tinha uma turma de 11
amigos que estudaram juntos
para o vestibular de medicina.
Todos passaram no exame.
Uma das amigas do tempo de
colégio é a pernambucana Lila
Câmara. "Estudamos juntas
desde a quinta série colegial. Íamos e voltávamos juntas da escola caminhando. Ela sempre
teve um sorriso no rosto. Passei
muitos fins de semana em sua
casa, em Esperança, amava ir
para lá. Adorava a família dela,
seus irmãos e sua mãe."
Lila diz que ela e Fabiana ficaram 13 anos sem se ver e se
reencontraram em São Paulo.
"Conheci seu marido, muito
gente fina, educado e atencioso.
Ela, com a mesma carinha de
sempre, de menina", conta.
Ontem, a página de Fabiana
no Orkut, que reúne fotos dela,
do marido e da família, contabilizava mais de 600 mensagens.
A maioria, de apoio aos familiares da médica. "Esse sorriso lindo foi ter com Deus, alegrar os
espíritos que já a esperavam.
Qualquer palavra é pouca diante da dor", escreveu Rita de
Cassia Coffani.
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