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ESPECIALISTAS
Choque foi mais rápido que tiro de revólver
Segundo especialista, aviões deveriam estar a cerca de 800 km/h, o que eleva para 1.600 km/h, 300 km/h mais veloz que projétil
Voando nessa velocidade e numa altura tão grande, os pilotos nem viram o momento o choque, diz professor de tráfego aéreo
ANDRÉ CARAMANTE
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
No momento em que o
Boeing 737-800 New Generation da Gol e o Legacy N600L,
recém-comprado pela empresa
ExcelAire Services da Embraer,
se tocaram no ar, as aeronaves
estavam mais rápidas do que
um disparo efetuado por um
revólver calibre 38, que tem
média de 1.300 km/h, de acordo com o professor de tráfego
aéreo Protógenes Pires, 71.
O acidente da última sexta-feira ocorreu a mais de 11 quilômetros de altura. Segundo o especialista, ex-professor do ITA
(Instituto Tecnológico de Aeronáutica), quando as duas aeronaves se tocaram, ambas deveriam estar a uma velocidade
média de 800 km/h, o que eleva
para 1.600 km/h (ou seja, cerca
de 300 km/h mais rápido do
que o disparo de calibre 38) o
provável momento da colisão
entre o Boeing e o Legacy, que
só teve pequenas partes da asa e
da traseira danificadas.
"Voando nessa velocidade e
numa altura tão grande, os pilotos, caso tenham tido a chance de ver algo, só avistaram um
pontinho, mas isso é improvável. Eles nem devem ter visto o
momento do encontro lá no
ar", afirmou Pires.
Para o ex-professor do ITA,
pela escassez de informações,
ainda é muito difícil poder
apontar as prováveis causas para o acidente entre as aeronaves, mas ele acredita ser pouco
provável que alguma delas tenham apresentado problemas
no TCAS (Traffic Alert and Collision Avoidance System), o
sistema anticolisão de tráfego
aéreo, que emite um alerta sonoro toda vez que outra aeronave é detectada em uma determinada rota ou aerovia.
Controle aéreo
O coronel Luís Roberto Lourenço, comandante da Base Aérea de São Paulo, disse ontem
que os operadores de controle
de tráfego aéreo são orientados
a chamar a atenção dos pilotos
imediatamente no caso de sumiço de dados de uma aeronave
nos mapas. Ele afirmou que esse problema não é comum. "O
território nacional é todo coberto por radar. O nível de segurança de vôo é muito alto."
No acidente da sexta, os registros do Legacy chegaram a
desaparecer dos radares. Especialistas cogitam a possibilidade de falha ou desativação do
transponder, aparelho que
transmite as características
instantâneas de cada avião (como rota, velocidade, altitude) e
passa informações ao TCAS.
Lourenço afirmou que os pilotos têm de comunicar a torre
sobre qualquer imprevisto.
Mas ele evitou reprovar a atitude do comandante do Legacy,
que não teria mantido contato
imediato com os operadores
após sentir um "leve choque".
"Cada caso pode exigir um tipo de comportamento, uma
reação. Se naquele momento, a
medida essencial for manter a
aeronave controlada, ele vai ter
que fazer isso. Se for essencial
falar e dizer que precisa mudar
de via, precisa descer, subir, fazer curva, ele vai falar no momento adequado. Em cada situação uma coisa se torna prioritária. O essencial de tudo é
tentar manter um controle de
vôo. É isso em primeiro lugar",
afirmou Lourenço, ressalvando
falar como profissional da aviação, com 30 anos de experiência, e não como representante
da Aeronáutica, já que não está
acompanhando de perto as investigações do acidente.
O fato de a aeronave maior
ter perdido controle, e não a
menor, após um eventual choque, segundo ele, não chega a
ser motivo de espanto porque
tudo depende, inclusive, do setor do avião que foi danificado.
"Se realmente houve uma colisão, é claro que sempre haverá
algum dano. Mas as duas aeronaves têm porte significativo
não são pequenas", disse.
Lourenço cita entre as partes
mais sensíveis do avião as asas e
a parte traseira (no estabilizador horizontal, responsável pelo controle de subida e descida,
e no leme de direção). "São os
comandos principais de vôo,
que mantêm a estabilidade."
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