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PF investiga vazamento de provas do Enem
Principal suspeita é de fraude nas etapas de impressão ou de distribuição; nova prova será aplicada em novembro, diz ministro
Maior exame do país seria feito neste fim de semana por mais de 4 milhões de pessoas; consórcio foi contratado para imprimir e distribuir teste
Hans von Manteuffel/Agência O Globo
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Estudantes de colégios particulares protestam em Recife contra o cancelamento da prova do Enem; exame começaria amanhã
MARTA SALOMON
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Educação
cancelou ontem, a dois dias do
início das provas, o Enem, o
maior exame já feito no país. A
decisão foi tomada depois que
foi constatado o vazamento da
prova, que seria feita por mais
de 4 milhões de estudantes.
Segundo o ministro Fernando Haddad, novas questões serão aplicadas "provavelmente"
no início de novembro. O Enem
(Exame Nacional do Ensino
Médio) substitui o vestibular
em 24 universidades federais e
é usado como critério de seleção na maioria das instituições
públicas e particulares do país.
A Polícia Federal abriu inquérito para identificar os responsáveis pelo vazamento. "O
mais plausível é que a fraude tenha ocorrido a partir da impressão", disse o ministro.
A quebra do sigilo do Enem
veio a público ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo".
Uma repórter foi procurada na
véspera por pessoas dispostas a
vender a prova por R$ 500 mil.
Ela leu trechos do exame e alertou o ministério. Após confirmado o vazamento, o MEC decidiu adiar a prova.
O ministério diz que já existem dois modelos de provas,
que podem substituir a que foi
cancelada. O problema é que as
novas datas do Enem podem
coincidir com a de outros vestibulares, além de trazer outros
problemas de logística.
A elaboração das questões do
Enem fica a cargo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais). A impressão e a distribuição do material é de responsabilidade do
Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção (Connasel), escolhido por meio de licitação. O
consórcio, liderado pela empresa baiana Consultec (Consultoria em Projetos Educacionais e Concursos), é formado
também pela Funrio e pelo Instituto Cetro, de São Paulo.
O consórcio contratou para a
impressão das provas a Plural
Gráfica e Editora, uma parceria
entre o Grupo Folha, que edita
a Folha, e a Quad Graphics,
maior gráfica das Américas.
O consórcio não quis se manifestar e a Plural afirma que
não tem nenhuma responsabilidade sobre o vazamento.
Haddad estimou em R$ 35
milhões o prejuízo. Ontem, ele
não soube informar quem terá
de arcar com o prejuízo, mas já
está definido que não haverá
nova licitação. "Há duas alternativas: continuar com o consórcio, que foi o único a apresentar propostas, ou fazer contratação emergencial de outra
empresa, que enfrenta dificuldades porque não há segundo
colocado", disse.
Ontem à noite, o MEC cancelou a reunião com a Consultec. Os representantes da empresa foram até o ministério,
mas ficou decidido que o encontro ocorreria hoje.
O contrato com a Consultec
foi assinado em 13 de agosto,
no valor de R$ 116,9 milhões.
O contrato, divulgado no início da noite pelo MEC, previa
entre as obrigações do consórcio "manter, sob rigorosos controle e sigilo, todos os dados, as
informações e os documentos,
responsabilizando-se por sua
adequada guarda e transporte".
À noite, em pronunciamento
em rede de televisão, Haddad
convidou os estudantes "a
aproveitar o tempo e aprimorar seus estudos".
Inquérito
A apuração do caso será rápida, diz o ministro.
As pessoas que tentaram
vender a prova disseram ao
"Estado" que haviam obtido o
documento no Inep, em Brasília. Haddad afastou a hipótese
de o sigilo da prova ter sido quebrado no instituto, que teria
acesso a apenas uma cópia digital do Enem.
O ministro resistiu, porém, a
especular sobre os responsáveis pelo vazamento da prova:
"É assunto de polícia, a PF vai
investigar, fazer o circuito completo, não sou investigador
nem delegado".
Segundo informações disponíveis ontem no MEC, o que vazou foi o conjunto impresso de
provas que seriam aplicadas
neste final de semana, que deveriam ter sido lacradas, por
imposição do contrato fechado
com o consórcio.
Após a impressão na gráfica,
a etapa seguinte era a distribuição para 10 mil locais de provas,
em 1.860 municípios do país. "A logística envolveu mais de 400
mil pessoas", disse Reynaldo
Fernandes, presidente do Inep.
No momento em que o vazamento foi tornado público, a
impressão tinha acabado, mas a
distribuição tinha começado
nas regiões Norte e Nordeste.
Veja a prova que vazou e o
gabarito em
www.folha.com.br/0927418
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