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Para Aeronáutica, crise acaba no domingo
Sindicato dos controladores de vôo discorda de brigadeiro e prevê longos atrasos em aeroportos do país por mais dez dias
Já o ministro da Defesa, Waldir Pires, evita falar em data; "se ainda puder ter direito a esperanças, espero que melhore logo", declarou
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, previu ontem que a situação
dos aeroportos deverá estar
praticamente normalizada até
domingo, a partir das medidas
tomadas pelo governo.
"No domingo, estaremos no
limiar da regularidade, no mínimo teremos melhoras muito
grandes e estaremos de volta às
condições anteriores", disse
ele, apesar de expectativas muito menos otimistas de outras
áreas de governo e dos próprios
controladores de vôo.
O presidente do sindicato de
controladores aéreos, Jorge
Botelho, estimou, após reunião
no Ministério da Defesa, que a
situação deve demorar ao menos mais dez dias. Segundo ele,
a melhora só será possível com
o remanejamento de controladores. "Não tem jeito. A população tem de se adequar. A aviação cresceu, mas a estrutura
não." O sindicalista disse ainda
que outros Estados poderão ter
problemas. "Estamos cobrindo
um setor e descobrindo outro."
Já o ministro Waldir Pires
(Defesa) evitou falar em data.
"Se ainda puder ter direito a esperanças, espero que melhore
logo", declarou.
A crise começou na semana
passada, quando controladores
de vôo de Brasília decidiram
iniciar uma operação-padrão,
elevando a distância entre os
aviões e reduzindo de 20 para
14 o número de aeronaves vigiadas por controlador. Segundo eles, isso foi feito em adequação às recomendações internacionais de segurança.
Congonhas
Ontem, a Agência Nacional
de Aviação Civil ampliou de
23h para 1h30 o horário de
pouso e decolagens no aeroporto de Congonhas, único do país
com limitação de funcionamento, devido ao barulho e à
densidade urbana no entorno.
A medida, sem prazo para
terminar, visa diluir o tráfego e
reduzir congestionamentos de
vôos. Não haverá novos vôos, só
mudanças nos horários.
Segundo Milton Zuanazzi,
presidente da Anac, por ser
ação emergencial, a Prefeitura
de São Paulo, que fiscaliza o barulho, não foi contatada. Ele
admitiu ainda que o Ministério
Público pode contestar na Justiça a decisão, pelo prejuízo aos
vizinhos de Congonhas.
O brigadeiro Bueno diz que
houve "erro de planejamento",
mas negou que tenha havido
poucos recursos para o controle aéreo na gestão Lula.
O erro foi quando a Aeronáutica ampliou o prazo de curso
de controladores militares de
um ano e meio para dois anos,
em 2003. Com isso, houve um
vácuo de seis meses, com déficit de pessoal. A turma de 80
controladores que deveria ter
concluído o curso em julho só
se formará em 24 de novembro.
Esse vácuo foi agravado pelo
"estresse", segundo ele, que recaiu sobre os controladores
após a queda do Boeing da Gol.
"Estão apavorados. O acidente
botou todo mundo em polvorosa", disse, lembrando que os oito em serviço no dia do acidente foram afastados como mandam as normas aeronáuticas.
Outros dez estão licenciados.
Há, ainda, uma excessiva
concentração de vôos por controlador no Cindacta-1 (o centro de controle aéreo da região
de Brasília). Cerca de 85% dos
vôos nacionais de Norte a Sul
passam sobre Brasília -média
de 3.000/dia. Mas menos de
10% dos controladores (236)
são sediados no Cindacta-1.
Bueno diz que a Aeronáutica
assumiu um excesso de atribuições com o acidente, como descobrir o local exato, achar e
identificar corpos e, ainda, cuidar das famílias. "Não demos a
devida atenção aos controladores", disse, lembrando que o estresse deles aumentou quando
começaram a circular as versões de que estariam no rol dos
possíveis culpados pelo acidente. "Nós já temos praticamente
certeza de que eles não têm culpa [os controladores de Brasília]", declarou o comandante.
Colaborou a FOLHA ONLINE
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