São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2006

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Para Aeronáutica, crise acaba no domingo

Sindicato dos controladores de vôo discorda de brigadeiro e prevê longos atrasos em aeroportos do país por mais dez dias

Já o ministro da Defesa, Waldir Pires, evita falar em data; "se ainda puder ter direito a esperanças, espero que melhore logo", declarou


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, previu ontem que a situação dos aeroportos deverá estar praticamente normalizada até domingo, a partir das medidas tomadas pelo governo.
"No domingo, estaremos no limiar da regularidade, no mínimo teremos melhoras muito grandes e estaremos de volta às condições anteriores", disse ele, apesar de expectativas muito menos otimistas de outras áreas de governo e dos próprios controladores de vôo.
O presidente do sindicato de controladores aéreos, Jorge Botelho, estimou, após reunião no Ministério da Defesa, que a situação deve demorar ao menos mais dez dias. Segundo ele, a melhora só será possível com o remanejamento de controladores. "Não tem jeito. A população tem de se adequar. A aviação cresceu, mas a estrutura não." O sindicalista disse ainda que outros Estados poderão ter problemas. "Estamos cobrindo um setor e descobrindo outro."
Já o ministro Waldir Pires (Defesa) evitou falar em data. "Se ainda puder ter direito a esperanças, espero que melhore logo", declarou.
A crise começou na semana passada, quando controladores de vôo de Brasília decidiram iniciar uma operação-padrão, elevando a distância entre os aviões e reduzindo de 20 para 14 o número de aeronaves vigiadas por controlador. Segundo eles, isso foi feito em adequação às recomendações internacionais de segurança.

Congonhas
Ontem, a Agência Nacional de Aviação Civil ampliou de 23h para 1h30 o horário de pouso e decolagens no aeroporto de Congonhas, único do país com limitação de funcionamento, devido ao barulho e à densidade urbana no entorno.
A medida, sem prazo para terminar, visa diluir o tráfego e reduzir congestionamentos de vôos. Não haverá novos vôos, só mudanças nos horários.
Segundo Milton Zuanazzi, presidente da Anac, por ser ação emergencial, a Prefeitura de São Paulo, que fiscaliza o barulho, não foi contatada. Ele admitiu ainda que o Ministério Público pode contestar na Justiça a decisão, pelo prejuízo aos vizinhos de Congonhas.
O brigadeiro Bueno diz que houve "erro de planejamento", mas negou que tenha havido poucos recursos para o controle aéreo na gestão Lula. O erro foi quando a Aeronáutica ampliou o prazo de curso de controladores militares de um ano e meio para dois anos, em 2003. Com isso, houve um vácuo de seis meses, com déficit de pessoal. A turma de 80 controladores que deveria ter concluído o curso em julho só se formará em 24 de novembro.
Esse vácuo foi agravado pelo "estresse", segundo ele, que recaiu sobre os controladores após a queda do Boeing da Gol.
"Estão apavorados. O acidente botou todo mundo em polvorosa", disse, lembrando que os oito em serviço no dia do acidente foram afastados como mandam as normas aeronáuticas. Outros dez estão licenciados.
Há, ainda, uma excessiva concentração de vôos por controlador no Cindacta-1 (o centro de controle aéreo da região de Brasília). Cerca de 85% dos vôos nacionais de Norte a Sul passam sobre Brasília -média de 3.000/dia. Mas menos de 10% dos controladores (236) são sediados no Cindacta-1.
Bueno diz que a Aeronáutica assumiu um excesso de atribuições com o acidente, como descobrir o local exato, achar e identificar corpos e, ainda, cuidar das famílias. "Não demos a devida atenção aos controladores", disse, lembrando que o estresse deles aumentou quando começaram a circular as versões de que estariam no rol dos possíveis culpados pelo acidente. "Nós já temos praticamente certeza de que eles não têm culpa [os controladores de Brasília]", declarou o comandante.


Colaborou a FOLHA ONLINE

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