São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2006

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"Estou fora do meu normal, mas não me arrependo"

DA SUCURSAL DO RIO

Depois de confessar ter ateado fogo em uma idosa anteontem, Solange Ferreira dos Santos disse à Folha que é perseguida por "uma luz" que quer "esfaqueá-la por dentro". Disse que veio de Brasília, onde trabalhou como doméstica, há cerca de um ano pegando carona, para fugir da "luz". Ela tem três filhos e uma neta, que continuam em Brasília. Mora sozinha, a cerca de dois quilômetros da agência do Itaú onde protagonizou a cena que chocou a cidade.

 

FOLHA - Por que você ateou fogo na aposentada?
SOLANGE FERREIRA DOS SANTOS -
Ninguém me trata como gente, sou sempre agredida. Eu saí como quem não quer nada. Estava aborrecida.

FOLHA - Quem é que te agride?
SOLANGE -
Ficam tentando me matar. Essa luz fica me perseguindo e me esfaqueando por dentro. Diz que vai me matar e matar os meus filhos.

FOLHA - O que aconteceu? Você queria machucar a aposentada?
SOLANGE -
Não quiseram me dar meu dinheiro, fiquei com raiva. Fui para casa, tomei banho e troquei de roupa. Aí eu peguei uma garrafa de plástico no lixo e saí andando. Parei num posto de gasolina, comprei R$ 2 de gasolina e fui andando, fui para atingir alguém do banco. Tem uns guardas metidinhos a valente lá no banco. Mas aí, vi [a aposentada] sentada lá e joguei a gasolina em cima dela, risquei o fósforo e pronto. Fui para casa.

FOLHA - Você viu a aposentada pegando fogo?
SOLANGE -
Foi de repente. Só vi a hora que o fogo começou a subir nela. Aí minha perna começou a ficar dura, parecia que ia ficar aleijada. Acho que era a luz que não queria que eu fosse embora. Depois fui andando, como se não tivesse acontecido nada.

FOLHA - O que você sentiu quando viu o que fez?
SOLANGE -
Senti um nervoso no crânio, quando cheguei em casa. Chorei e senti muita dor na perna. Contei na minha rua o que aconteceu. Depois, tomei um remédio e dormi. Não, tomei dois remédios calmantes e dormi.

FOLHA - Você já fez exames psiquiátricos?
SOLANGE -
Eu não fiz exame porque o médico nunca atende. Eu tomo Amitril, que é antidepressivo.

FOLHA - Você se arrependeu?
SOLANGE -
Olha, eu estou fora do meu normal, mas eu não me arrependo.


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