São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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PM reduz blitze da lei seca após 4 meses

Número de carros parados em fiscalizações feitas pela Polícia Militar foi 30% menor em outubro, em comparação a julho

Polícia atribui redução à mudança de estratégia na fiscalização nas ruas e ao maior número de dias chuvosos no mês passado

Choque/Folha Imagem
Policial Militar participa de blitz da lei seca na região central da cidade, na noite de quinta-feira

RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro meses e meio após o início da lei seca, a fiscalização na cidade de São Paulo não mantém o mesmo vigor. Em outubro, o número de carros parados em blitze feitas pelo batalhão de trânsito da Polícia Militar foi 30% menor, em comparação a julho. Resultado: o total de motoristas submetidos ao bafômetro caiu um terço, e os flagrantes de direção alcoolizada caíram pela metade.
Os dados são resultado de levantamento feito pela Folha com base nos 81 boletins da operação Direção Segura, da Polícia Militar, entre 27 de junho e 30 de outubro. As blitze são feitas semanalmente de quinta-feira a domingo.
A queda dos índices de eficácia da fiscalização é progressiva desde julho, primeiro mês completo após a lei. A média de carros fiscalizados por noite caiu de 107, em julho, para 70 em outubro. Em julho, foram 2.098 testes de bafômetro -727 a mais que outubro.
A principal justificativa para o recuo dos números em outubro, diz a PM, foi uma mudança na estratégia de fiscalização.
Desde meados de setembro, parte das barreiras fixas foi substituída por patrulhas rotativas, porque alguns pontos já estavam "viciados", segundo o major Ricardo Barros, comandante do batalhão de trânsito da capital. "A idéia é que o motorista não saiba onde a blitze está." O mau tempo -"justamente nos fins de semana"- também contribuiu, diz ele.

Percepção dos motoristas
Entretanto, a redução da quantidade de barreiras fez com que diminuísse também a percepção dos motoristas da fiscalização ostensiva nas ruas. Por exemplo, nos bares da Vila Madalena (zona oeste), um dos principais redutos boêmios da cidade, motoristas, garçons e donos de bares afirmam que não têm visto mais blitze há pelo menos um mês.
"Só vi blitz na rua uma vez, logo no primeiro mês. Depois, nunca mais", diz o designer Maurício Sartori, 30, freqüentador assíduo da região.
E mesmo entre os que mudaram de hábito, ainda há espaço para um pecadilho, vez por outra. "Antes [da lei seca] bebia e dirigia, não estava nem aí. Agora, ou não bebo ou passo o volante para minha namorada, que não bebe. Mas, de vez em quando, arrisco [beber e sair dirigindo]", afirma o bancário Wagner Mendes, 32.
É onde mora o perigo, na opinião de especialistas em medicina e segurança do tráfego ouvidos pela Folha. Eles afirmam que a sensação de fiscalização é essencial para garantir a eficácia da lei, sobretudo no início, e alertam para o risco de desmoralização da medida, ao menor sinal de que as blitze tenham esmorecido.
"Sinto que não existe mais aquele ímpeto da autoridade de coibir como antes", diz o presidente da comissão de direito de trânsito da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Cyro Vidal, para quem a lei "está caindo na rotina" cedo demais.

Megaoperações
Em outubro, a PM não realizou operações de maior porte, que chegavam a abordar entre 500 e 700 veículos em uma só noite, pelo menos uma vez por mês -a média de carros parados em dias normais é de 94.
Na última "megaoperação", em 27 de setembro, 825 pessoas foram submetidas ao bafômetro; na maior do mês de outubro, no dia 5, apenas 248 foram abordadas -a média, em dias normais é de 111.
O temor dos especialistas é de que os primeiros meses de fiscalização mais intensa ainda não tenham sido suficientes para que a mudança de comportamento dos motoristas tenha se consolidado em uma mudança de hábito duradoura.
"Se a fiscalização abrandar, o número de acidentes volta a crescer", diz Celso Bernini, diretor-técnico do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas.
Porém a diminuição da fiscalização parece ainda não se refletir na retomada do crescimento da violência no trânsito.
Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública, entre julho e setembro foram registrados 166 mortes em acidentes de trânsito na capital, contra 185 do trimestre anterior -queda de 10%.
Já o número de lesões corporais culposas em acidentes de trânsito caiu um pouco menos. De 7.927, no trimestre anterior, passou para 7.355 entre julho e setembro -redução de 7,2%.
Nem o HC -que estimava em 20% a redução dos acidentes pós-lei seca, até agosto- nem a Secretaria Estadual da Saúde -que apontou redução de 44% dos atendimentos em hospitais públicos, de julho a setembro- atualizaram seus levantamentos em outubro.


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