DA REPORTAGEM LOCAL

"Maktub", o destino quis assim. O obstetra Bussâmara Neme, 88, o mais idoso profissional da área em atividade no país, usa o verbete árabe para explicar a longevidade.
"A maior contribuição é do destino. Uns 25% você acrescenta se fizer um bom casamento", teoriza. "Minha mulher pôs 25%", sorri o professor da USP, Unicamp e da Faculdade de Medicina de Sorocaba.
Neme afirma que se considera afortunado. Não tem problemas de saúde e só lembra de um grande sufoco na vida, o vestibular para medicina.
À parte o componente "mágico" de sua teoria, o obstetra maravilha-se com os avanços da medicina. "Hoje se faz medicina preventiva. Houve inúmeros avanços na cirurgia, você faz um transplante brincando. Na obstetrícia, a introdução do ultra-som, na década de 60, foi a grande revolução. Diminuiu muito a mortalidade perinatal [no nascimento]."
O médico, no entanto, não abandonou velhos instrumentos de trabalho -como um antigo estetoscópio- para ouvir os batimentos cardíacos dos bebês. "Sinto que estou mais próximo. Eu converso com eles. Sei o que querem e o que não querem."
Hoje, talvez até pela diminuição das taxas de fecundidade no país, Neme não faz tantos partos quanto gostaria. Optou por atender também em enfermarias das unidades públicas, onde a "demanda" por tudo ainda é maior. Muito maior.
Nesses anos todos, o médico diz que viu o país avançar em marcha lenta. "Nem o nosso hino nacional explodiu, pegou. Foi uma encomenda, e uma coisa encomendada não desperta paixão." (FABIANE LEITE)


Texto Anterior: Retratos do Brasil: Brasileiro vive mais e terá de trabalhar mais
Próximo Texto: Educação: Estudante do 1º ano também fará o provão
Índice