São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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País perde cada vez mais "cérebros" para o exterior

Número dos que receberam visto dos EUA dado a profissionais qualificados cresceu 185%

Em dez anos, quase dobrou a proporção de brasileiros com nível superior vivendo nos países da OCDE, que reúne nações ricas

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

Atraídos pela escassez de mão-de-obra qualificada, brasileiros com alto nível de instrução estão, cada vez mais, migrando para Europa e América do Norte. O fenômeno, chamado de fuga de cérebros, fica claro na análise de dois dados:
1) De 1996 a 2006, o número de brasileiros que receberam visto dos Estados Unidos dado somente a profissionais de alta qualificação aumentou 185%. 2) De 1990 a 2000, quase dobrou -de 1,7% para 3,3%- a proporção de brasileiros com nível superior vivendo nos 30 países da OCDE, que reúne, na maioria, nações ricas de Europa, Ásia e América do Norte.
O Brasil não é o único afetado pela tendência. É a Índia o país com maior número de vistos dos EUA para trabalhadores qualificados, mas são nações de pequeno porte -como Guiana, Jamaica ou Haiti- que têm proporção de população com nível superior vivendo em outros países superior a 80%.
Mesmo assim, o aumento da fuga de cérebros do Brasil preocupa e muda o perfil do emigrante. Franklin Goza, professor da Universidade Estadual de Bowling Green (Ohio) que estuda a imigração brasileira para os EUA, afirma que ela está em transição.
"Nos anos 80, a vasta maioria de brasileiros que vinha para cá entrava ilegalmente, tinha baixa qualificação ou eram profissionais que chegavam como turistas, mas acabavam estendendo a estadia e trabalhando sem permissão em empregos não condizentes com sua formação, como professores lavando prato em restaurantes."
Hoje, no entanto, ele define a migração brasileira para lá como bi-modal. O fluxo de ilegais ainda é grande -no ano passado, os brasileiros perderam apenas para os mexicanos entre os que foram apreendidos na fronteira-, mas cresceu significativamente o número de profissionais em situação legal.
No Brasil, os efeitos também já são identificáveis. Para o demógrafo Eduardo Rios-Neto, presidente da Comissão Nacional de População e Desenvolvimento, o principal problema é a escassez de recursos humanos de alta qualidade no Brasil e no mundo. "O Brasil fornece talentos para esse mercado global. O ponto é saber se é benéfico ou deletério. Se o trabalhador tiver estudado numa universidade pública, é deletério, pois foi o Estado que subsidiou sua educação. Mas, se a tendência é inexorável, há que se desenhar arranjos institucionais, como retornos periódicos e transferências de tecnologia, para minimizar as perdas."
O demógrafo, no entanto, enxerga oportunidades: "Há risco de longo prazo de que a classe média seja insuficiente para prover toda a demanda por qualificação do país. Com isso, pela primeira vez a elite empresarial terá de investir na educação popular como prioridade e devido a interesse econômico, e não por altruísmo."


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