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A cada assassinato em Moema, 130 são mortos no Grajaú
De cada 15 mortos em SP, um é do bairro do periferia; na região
nobre, índice é de uma morte para cada 2.115 habitantes da cidade
Bairro da periferia tem 7ª
pior renda média da cidade
(R$ 597,70), enquanto o
bairro rico está na segunda
colocação (R$ 5.576,78)
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Separadas por 20 km de distância, pouco mais de 40 minutos de carro, na mesma zona sul
da cidade, duas regiões revelam
os extremos da violência em
São Paulo.
Enquanto um morador é assassinado, em média, em Moema, uma das áreas mais nobres
da cidade, 130 pessoas são mortas no Grajaú, um dos distritos
mais pobres de São Paulo.
Na distribuição das mortes
violentas ocorridas em toda a
capital, o contraste ainda é
mais visível. De cada 15 vítimas
de assassinato em São Paulo,
uma é moradora do Grajaú. Em
Moema, essa proporção é de
uma vítima a cada grupo de
2.115 assassinados na cidade.
Os números são do Pro-Aim
(Programa de Aprimoramento
das Informações de Mortalidade do Município de São Paulo),
da Secretaria Municipal de
Saúde. Eles confirmam tendência de queda ou estabilidade
nos números de mortes violentas em todos os 96 distritos da
capital, mas revelam que os
contrastes entre periferia e
áreas nobres não se alteraram.
"A vida na periferia vale menos?", questiona o sociólogo
Luis Carlos dos Santos, 51, líder
comunitário na região do Grajaú e Cidade Dutra, que teve
dois irmãos assassinados. "A
violência na periferia só se torna preocupação governamental quando rompe a barreira e
chega na classe média alta."
Em Moema, sem histórico de
assassinato na família, a também líder comunitária Lygia
Horta, 70, tem outra explicação
para os contrastes. "Aqui o nível social é maior, sim, mas somos organizados. A comunidade se conhece, participa", diz.
De janeiro de 2003, ano em
que o número de mortes passou a apresentar quedas mais
expressivas, até maio deste ano,
São Paulo registrou 14.810
mortes violentas, segundo levantamento do Pro-Aim.
O levantamento leva em conta dados dos atestados de óbito
e o endereço das vítimas -a polícia mapeia os crimes a partir
dos boletins de ocorrência, que
seguem o local do delito. O Pro-Aim reúne casos de homicídios
dolosos e mortos em tentativas
de roubo.
No Grajaú, que registra a sétima pior renda média dos 96
distritos (R$ 597,70), 914 moradores foram assassinados.
São 6% de todas as mortes violentas ocorridas na capital -o
distrito tem 410 mil moradores, 3,3% da população.
No mesmo ranking, Moema
ocupa a última colocação. Foram sete mortes violentas desde 2003 -0,047% dos casos. O
distrito de 67 mil moradores,
que reúne 0,65% da população
da capital, tem a segunda melhor renda média: R$ 5.576,78.
A primeira é do distrito do Morumbi (R$ 6.498,82).
"Claro que temos de comemorar a queda de homicídios.
Mas o padrão de vitimização
continua intacto", afirmou a
antropóloga Paula Miraglia, diretora executiva do Ilanud (órgão da ONU sobre delitos e tratamento do delinqüente). "A
distribuição da violência ainda
expressa a desigualdade social
e mostra que as políticas públicas não estão acessíveis."
O perfil dos mortos no Grajaú e em Moema também mostra os opostos entre as duas regiões. Entre os 914 moradores mortos no Grajaú, 183 tinham
até 19 anos.
Em Moema, nenhum morador foi vítima de violência nessa faixa etária. Dos sete mortos
no bairro nobre, um tinha entre
20 e 29 anos e os outros tinham
mais de 50 anos.
Daniel Bruno Sciolla, 19, levou um tiro na nuca por causa
de uma dívida de droga. Viciado, ele tinha deixado a cadeia 15
dias antes. Foi atingido pelas
costas quando estava em um
bar na região do Grajaú.
A mãe, que não quer ser identificada, disse que planejou tirá-lo da região quando descobriu que ele era usuário de drogas. Abandonou a idéia por falta
de dinheiro. "Se eu tivesse dinheiro para tirá-lo daqui talvez
ainda estivesse vivo."
Colaborou RICARDO GALLO , da Redação
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