São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Morador é preso ao se negar a deixar área de risco

Metalúrgico chegou a ameaçar equipe de bombeiros com facão em Luiz Alves

Caso ocorreu anteontem, no mesmo dia em que novos desabamentos na região mataram duas crianças e um adulto e feriram 14 pessoas

ALENCAR IZIDORO
ENVIADO A ILHOTA

A equipe de resgate chegou para socorrer a vizinhança de deslizamentos iminentes, mas Adelino Bachmann, 48, disse que não sairia de lá de jeito nenhum. Tirou um facão e ameaçou os bombeiros que tentavam socorrê-lo numa área de extremo risco de Luiz Alves, uma das regiões do Vale do Itajaí mais afetadas pelas chuvas em Santa Catarina. Foi preso, tirado à força do local e obrigado a passar a noite na delegacia.
Essa foi a primeira detenção de moradores depois da ordem de retirar os resistentes algemados, se necessário.
O caso ocorreu anteontem à tarde, no mesmo dia em que os novos desabamentos de terra na região deixaram ao menos três mortos (sendo duas crianças, de sete e dez anos) e 14 feridos, incluindo oito homens da Força Nacional de Segurança.
O filho e a mulher do metalúrgico atenderam aos apelos da equipe de busca, mas ele dizia não ver perigo. Bachmann responderá por obstrução ao serviço policial em resgate. "Se voltar para lá, será preso de novo", disse o delegado Arlindo Artner Jr., após liberar a saída dele para a casa de parentes.
Ontem, em mais um dia de buscas a moradores em áreas perigosas e de avaliação de morros de Ilhota e Luiz Alves pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), reações como a de Bachmann não eram isoladas, ainda que sem tanta agressividade.
À tarde, na delegacia, um homem que se identificou como Pedro ameaçava retornar a seu imóvel para protegê-lo da "invasão" de equipes de busca. Dizia ter sumido uma palmeira.
João Pedro Dabsi, 58, que vive na parte baixa do bairro Máximo, foi avisado para sair de casa, mas decidiu atender à ordem só de noite. "Não posso abandonar tudo."
Ontem de manhã foram enterrados Eduardo Saplinsky, 10, e Nora Schlickmann, 68, que morreram após um deslizamento no momento em que deixavam uma área de risco em Luiz Alves, escoltados por homens da Força Nacional de Segurança. Luís Felipe Saplinsky, 7, também morreu, mas não tinha ainda sido removido. Outra criança da mesma família, irmão dos dois mortos, continuava em estado grave em um hospital de Itajaí.


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