São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Justiça liberta vigia que matou cliente nas Casas Bahia

Para desembargador, não há indícios de que o acusado pretende fugir ou influenciar testemunhas que serão ouvidas

Crime aconteceu no dia 10 de novembro; família da vítima, o motoboy Alberto Milfont Júnior, 23, diz que saiu de casa por medo

LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu habeas corpus libertando o segurança Genilson Silva Souza, 29, que matou em 10 de novembro o motoboy Alberto Milfont Júnior, 23, dentro de uma unidade das Casas Bahia. O segurança, que trabalhava na loja por uma empresa terceirizada, discutiu com a vítima e a baleou na cabeça.
O desembargador Péricles Piza, da 1ª Câmara de Direito Criminal do TJ, entendeu que apesar de a prisão de Souza ter sido em flagrante, o fato de ele ser vigilante -e andar armado- não traz risco à ordem pública. Em sua decisão, o magistrado diz que não há indícios de que ele pretende fugir ou influenciar testemunhas antes que elas sejam ouvidas pela Justiça. Isso porque, após balear o motoboy, uma única vez, o segurança permaneceu no local esperando a polícia.
Também pesou na decisão de Piza o fato de Souza preencher os requisitos para a concessão de liberdade provisória, como possuir emprego lícito e residência fixa. Souza foi solto na quinta-feira, mas a decisão tem caráter liminar. Isso significa que ainda deve haver um julgamento definitivo sobre o habeas corpus.
O advogado de Souza, Roberto Garcia Lopes Pagliuso, contratado pela empresa Gocil Segurança, onde ele trabalha, diz que seu cliente agiu em legítima defesa. Segundo ele, Souza ainda não prestou depoimento.
Em nota, a empresa informou que Souza está de licença por tempo indeterminado e que a Gocil "nunca se furtou nem se furtará às suas responsabilidades e apenas aguarda o trâmite normal do processo e a conclusão das investigações para tomar todas as providências e atitudes requeridas".
No dia do crime, as Casas Bahia informaram que o segurança era de uma empresa terceirizada e que "exigirão dos responsáveis os devidos esclarecimentos".
O advogado da família da vítima, Ademar Gomes, afirmou que entrará com recurso no Superior Tribunal de Justiça se o TJ mantiver a decisão.
Em 10 de novembro, Milfont Júnior foi com a namorada, a esteticista Darilene Pereira Ribeiro, 22, e um amigo de 17 anos às Casas Bahia do Campo Limpo (zona sul) para comprar um colchão. O segurança desconfiou do motoboy e o abordou.
Os dois discutiram e Milfont Júnior chegou a mostrar a nota fiscal da compra para provar que não era criminoso. Segundo Darilene, o segurança fez provocações e disse que iria atirar. Ela conta que Milfont Júnior disse: "Atira, atira, quero ver se tem coragem".
Ao saber da libertação, com medo, a família da vítima decidiu abandonar sua casa, no Capão Redondo -bairro próximo ao do suspeito. A mãe da vítima, Aldeiza da Silva Milfonti, 52, afirmou que a decisão da Justiça foi preconceituosa por seu filho ser morador de periferia.
Segundo parentes, ele trabalhava com o tio como supervisor industrial. "Foi uma injustiça muito grande. Ele matou meu filho praticamente a sangue frio. Colocaram um assassino na rua para que outras pessoas corram o mesmo risco. Uma pessoa dessas não tem condições psicológicas de ficar solto na rua", disse.
Segundo ela, Darilene, com quem a vítima tinha um filho de cinco meses, não sai mais de casa desde o dia do crime.
A liminar também revoltou jovens da organização não-governamental Casa do Zezinho, onde o motoboy trabalhava em um projeto social como mediador de conflitos. "Os jovens estão dizendo que não acreditam mais na Justiça", diz a educadora Dagmar Garrox.


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