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Justiça liberta vigia que matou cliente nas Casas Bahia
Para desembargador, não há indícios de que o acusado pretende fugir ou influenciar testemunhas que serão ouvidas
Crime aconteceu no dia 10 de novembro; família da vítima, o motoboy Alberto Milfont Júnior, 23, diz que saiu de casa por medo
LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal de Justiça de São
Paulo concedeu habeas corpus
libertando o segurança Genilson Silva Souza, 29, que matou
em 10 de novembro o motoboy
Alberto Milfont Júnior, 23,
dentro de uma unidade das Casas Bahia. O segurança, que trabalhava na loja por uma empresa terceirizada, discutiu com a
vítima e a baleou na cabeça.
O desembargador Péricles
Piza, da 1ª Câmara de Direito
Criminal do TJ, entendeu que
apesar de a prisão de Souza ter
sido em flagrante, o fato de ele
ser vigilante -e andar armado- não traz risco à ordem pública. Em sua decisão, o magistrado diz que não há indícios de
que ele pretende fugir ou influenciar testemunhas antes
que elas sejam ouvidas pela
Justiça. Isso porque, após balear o motoboy, uma única vez,
o segurança permaneceu no local esperando a polícia.
Também pesou na decisão de
Piza o fato de Souza preencher
os requisitos para a concessão
de liberdade provisória, como
possuir emprego lícito e residência fixa. Souza foi solto na
quinta-feira, mas a decisão tem
caráter liminar. Isso significa
que ainda deve haver um julgamento definitivo sobre o habeas corpus.
O advogado de Souza, Roberto Garcia Lopes Pagliuso, contratado pela empresa Gocil Segurança, onde ele trabalha, diz
que seu cliente agiu em legítima defesa. Segundo ele, Souza
ainda não prestou depoimento.
Em nota, a empresa informou que Souza está de licença
por tempo indeterminado e
que a Gocil "nunca se furtou
nem se furtará às suas responsabilidades e apenas aguarda o
trâmite normal do processo e a
conclusão das investigações para tomar todas as providências
e atitudes requeridas".
No dia do crime, as Casas Bahia informaram que o segurança era de uma empresa terceirizada e que "exigirão dos responsáveis os devidos esclarecimentos".
O advogado da família da vítima, Ademar Gomes, afirmou
que entrará com recurso no Superior Tribunal de Justiça se o
TJ mantiver a decisão.
Em 10 de novembro, Milfont
Júnior foi com a namorada, a
esteticista Darilene Pereira Ribeiro, 22, e um amigo de 17 anos
às Casas Bahia do Campo Limpo (zona sul) para comprar um
colchão. O segurança desconfiou do motoboy e o abordou.
Os dois discutiram e Milfont
Júnior chegou a mostrar a nota
fiscal da compra para provar
que não era criminoso. Segundo Darilene, o segurança fez
provocações e disse que iria atirar. Ela conta que Milfont Júnior disse: "Atira, atira, quero
ver se tem coragem".
Ao saber da libertação, com
medo, a família da vítima decidiu abandonar sua casa, no Capão Redondo -bairro próximo
ao do suspeito. A mãe da vítima,
Aldeiza da Silva Milfonti, 52,
afirmou que a decisão da Justiça foi preconceituosa por seu filho ser morador de periferia.
Segundo parentes, ele trabalhava com o tio como supervisor industrial. "Foi uma injustiça muito grande. Ele matou
meu filho praticamente a sangue frio. Colocaram um assassino na rua para que outras pessoas corram o mesmo risco.
Uma pessoa dessas não tem
condições psicológicas de ficar
solto na rua", disse.
Segundo ela, Darilene, com
quem a vítima tinha um filho de
cinco meses, não sai mais de casa desde o dia do crime.
A liminar também revoltou
jovens da organização não-governamental Casa do Zezinho,
onde o motoboy trabalhava em
um projeto social como mediador de conflitos. "Os jovens estão dizendo que não acreditam
mais na Justiça", diz a educadora Dagmar Garrox.
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