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Estudo aponta que cor de pesquisador muda resposta
Pesquisado tende a se dizer mais claro, aponta estudo
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Você é branco, preto ou pardo? Um estudo realizado no
Rio Grande do Sul apontou que
a resposta do entrevistado muda dependendo de quem faz a
pergunta. A tendência é que ele
declare ter uma pele mais clara
que a do entrevistador.
A pesquisa foi feita na cidade
de Pelotas (RS), onde a população -utilizando os termos adotados pelo IBGE- é 79% branca, 14% preta e 7% parda. O instituto não usa o termo negro.
Ouviram-se 3.170 pessoas de
todos níveis sociais, em suas casas, escolhidas aleatoriamente.
A proporção das declarações
mudou quando o entrevistador
era preto. Menos pessoas se
consideraram pretas (4%) e
mais, pardas (18%).
Percebeu-se o mesmo embranquecimento quando o entrevistador era pardo. Menos
pessoas se declararam pardas
(4%) e mais se disseram brancas (85%).
No caso do entrevistador
branco, a proporção ficou perto
das médias gerais de Pelotas.
A pesquisa não investigou o
motivo que levou a esse autoembranquecimento diante
de entrevistadores pretos e
pardos. Mas existem hipóteses.
"Estar no extremo claro da
cor é visto como algo socialmente vantajoso", diz João
Luiz Bastos, doutorando da
programa de epidemiologia da
Universidade Federal de Pelotas que liderou o estudo.
Carlos Moura, assessor da
Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial, ligada à Presidência da República, concorda. Ele exemplifica com pesquisas que mostram que, quando um emprego
é disputado por pessoas de nível profissional parecido e cor
de pele diferente, é quase certo
que o preto perderá a vaga.
"Desde os tempos idos, a comunidade negra foi vista como
incompetente, inadequada,
sem categoria e não bonita. Então, para crescer na sociedade,
a tendência natural é que o indivíduo adote uma posição de
negação e tente se desvencilhar
desse aprisionamento [de ser
visto como negro]", explica.
Embranquecimento
Outras pesquisas já haviam
mostrado que as pessoas se embranquecem à medida que sobem na escala social e cultural.
A socióloga Paula Barreto, do
Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da
Bahia, explica que pesquisas
desse tipo comprovam que "a
cor do brasileiro depende do
contexto".
"Uma pessoa com pele escura, educação formal e renda elevada tende a ser definida pelos
outros como mulata ou morena. E ela própria tende a se definir assim. Por outro lado, uma
pessoa com a pele igualmente
escura, pobre e sem escolarização é vista como preta."
O contexto regional também
influencia. Como a proporção
de brancos em Salvador, por
exemplo, é menor do que em
Porto Alegre, uma pessoa tida
como parda na capital baiana
provavelmente será vista como
preta na capital gaúcha.
Dois outros dados da pesquisa de Pelotas chamam a atenção. Primeiro, as entrevistas foram feitas sempre por mulheres. Depois, o embranquecimento foi maior nos homens.
Por isso, os pesquisadores especulam que o fator "gênero"
também pode ter tido influência. Dizendo-se mais claros que
as entrevistadoras, os homens
reforçariam sua superioridade
em relação a elas.
O pesquisador do IBGE José
Luis Petruccelli concorda que o
entrevistador, ainda que sem
querer, influencia as respostas
do entrevistado. Isso quer dizer
que as pesquisas nacionais como o Censo não correspondem
à realidade? Petruccelli diz que
não. "As distorções se anulam
nos grandes números."
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