São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2010

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Tráfico faz ameaças a militares fora do Complexo do Alemão

Soldados do Exército dizem que estão sendo expulsos de onde moram

Criminosos deixam ordens às famílias para que militares "não voltem mais para casa"; alguns ficam em quartel

Joel Silva/Folhapress
Com medo de voltar para casa, soldados do Exército dormem em acampamento próximo ao Complexo do Alemão, no Rio

ROGÉRIO PAGNAN
JOEL SILVA

DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

Em represália à ação no Complexo do Alemão, soldados do Exército que participam da ocupação dizem que estão sendo expulsos das favelas onde moram por traficantes ligados à facção criminosa Comando Vermelho.
De acordo com soldados ouvidos pela Folha, pelo menos cinco deles receberam ordem de criminosos para não voltar para casa e desde sexta estão acampados no quartel improvisado próximo ao Complexo do Alemão.
O Exército participa da ocupação do Alemão desde a semana passada com cerca de 800 homens -todos são lotados no Rio.
Na lista estão militares que moram em favelas como Caxias, favela da Galinha e Anchieta. Outros soldados não quiseram dizer à Folha onde moram com suas famílias.
Ainda de acordo com relatos dos militares, os traficantes -todos armados- estão indo de moto e deixando a ordem para que os soldados "não voltem mais para casa".
Um soldado que mora em Caxias abandonou a casa com móveis recém-comprados, segundo os colegas.
Outro militar disse que a mulher abandonou a casa onde moram após ser abordada por traficantes.
O tenente-coronel Cláudio Tavares Casali, um dos comandantes da operação no Alemão, confirma que cerca de dez soldados que participam da operação foram "pressionados" por traficantes supostamente ligados aos criminosos do CV.
Ele disse saber apenas de um militar que afirmou que vai mudar de endereço após essa "pressão".
Casali disse que a Secretaria de Segurança foi informada e, agora, a polícia deve iniciar a investigação.
Os militares que se sentirem ameaçados, segundo ele, estão sendo retirados da linha de frente e utilizados em outros serviços.
Segundo os militares, as ameaças tiveram início na última sexta-feira quando o Exército cercou o Alemão. "Até então, ninguém mexia com ninguém. Agora, viram que estamos nas ruas e passaram a nos perseguir como se fôssemos policiais", disse um soldado.
Ao contrário dos policiais civis e militares, quando deixa o quartel, o soldado não tem direito de portar qualquer tipo de arma de fogo.
O Exército informou não ter tomado conhecimento de nenhuma queixa da tropa, mas disse que vai averiguar as denúncias.
"Não houve nenhuma reclamação nesse sentido", disse o chefe de comunicação do Comando Militar do Leste, coronel Ênio Zanan. Segundo ele, o Exército participou de outras operações em favelas do Rio, sem registro de militares ameaçados.


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