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Morador diz que foi amarrado por policiais em blitz
LAURA CAPRIGLIONE
MARLENE BERGAMO
DAS ENVIADAS ESPECIAIS AO RIO
Amarrado com as mãos
para trás por um fio de ventilador, amordaçado com a
fralda do sobrinho de um
mês, imobilizado em uma cadeira de espaldar alto, um
biscateiro de 19 anos diz ter
passado meia hora de terror
em sua casa, na Vila Cruzeiro, na manhã de ontem.
A mãe, mulher, irmã e o filho de 3 anos dele, que estavam no imóvel na hora em
que os policiais chegaram,
foram expulsos do local pelos soldados. Ficaram na porta, gritando por socorro.
A Folha entrou na casa do
biscateiro poucos minutos
depois de os quatro policiais
se retirarem em um carro
azul claro e branco, as cores
da PM. As crianças berravam. O rapaz teve uma crise
de choro convulsivo. Mãe,
mulher e irmã gritavam, assustadas e revoltadas. "Onde
é que está o dinheiro? O que é
que tu tem aí pra perder?,
perguntavam todo o tempo.
Falavam que se o dinheiro
não aparecesse, me matariam", disse o biscateiro.
Os policiais vasculharam a
casa. Com os canos de suas
armas, estouraram o forro de
plástico no teto, em busca de
algo que pudesse estar escondido. Segundo a família,
não encontraram nada.
A casa fica no segundo piso de um imóvel que era, até
quinta passada, ocupado por
um homem suspeito de ligações com o narcotráfico.
A polícia já vistoriou o piso
inferior, que foi depois saqueado. Teto com sanca de
gesso e lâmpadas embutidas
agora estão quebrados. Sofás
e móveis modulares da cozinha e banheiro também foram revirados.
SEGUNDA VEZ
Segundo a irmã do biscateiro, policiais do Batalhão
de Operações Especiais e da
Tropa de Choque já estiveram em sua casa.
"Eles vieram, revistaram
tudo e nos deixaram em paz.
A gente achou até que era
correto, porque tinha um sujeito meio bandido bem embaixo de nós. Mas hoje foi diferente. Quando viram que
não tinha nada aqui em casa,
mandaram todos nós sairmos de casa e ficaram aqui só
com meu irmão. Para nós,
parecia que nunca mais íamos revê-lo com vida."
A doméstica Maria, 52,
mãe do biscateiro, gritou tanto pedindo para entrar em
sua casa que mal conseguia
falar com a Folha. Segundo
ela, os policiais haviam retirado as identificações de
seus uniformes. "Eu só vi que
um deles era O+", disse, referindo-se ao tipo sanguíneo
de um dos soldados.
A assessoria da PM do Rio
afirma que as denúncias de
abusos cometidos por policiais serão investigadas e que
o comando da tropa punirá
"com rigor" os envolvidos
em "desvios de conduta".
A família do rapaz não pretende denunciar os policiais.
"Quando vocês forem embora, eles vêm e acertam contas
com a gente", disse a mãe.
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