São Paulo, quinta-feira, 03 de janeiro de 2008

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Incêndio mata 8 presos; carcereiro saíra com a chave

Policiais tiveram de abrir buraco na parede; presos estavam amontoados no banheiro

Polícia do governo Aécio Neves (PSDB) não explicou onde estava o carcereiro no momento do fogo nem divulgou seu nome

Roberto Nascimento/"Páginas"
Incêndio na cadeia de Rio Piracicaba, em Minas Gerais, antes da retirada dos oito detentos mortos; outros dois passaram mal


TALITA BEDINELLI
DA AGÊNCIA FOLHA

RONILDO DE JESUS
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Oito presos morreram intoxicados pela fumaça de um incêndio na cadeia pública de Rio Piracicaba (131 km de Belo Horizonte) anteontem à noite. Outros dois, que ajudaram na retirada dos corpos, também se sentiram mal, mas foram levados para um hospital, onde foram medicados, e estão bem.
O carcereiro -único do plantão que tinha a chave das celas- não estava na delegacia quando o fogo começou, o que dificultou o resgate dos presos. Apenas um policial militar estava no local no momento.
O incêndio iniciou pouco depois das 20h de terça-feira, na cela número 1 da cadeia, e foi combatido 30 minutos depois, por um caminhão-pipa da prefeitura. A cidade, de pouco mais de 14 mil habitantes, não tem Corpo de Bombeiros.
A Polícia Civil, que se pronunciou por meio de sua assessoria de imprensa, disse que as causas só serão determinadas após a perícia, mas uma das suspeitas é de que tenha sido causado pelos próprios presos. Não foi informado o nome do carcereiro nem onde ele estava.
Segundo a polícia, os oito detentos-que estavam na mesma cela- tinham sido advertidos, 30 minutos antes, a apagar um pequeno foco de incêndio que haviam provocado.
A Polícia Militar afirmou, em uma nota, pela manhã, que o fogo foi provocado por um curto-circuito em uma extensão puxada pelos presos para pendurar lâmpadas nas grades das camas, acima dos colchões.
O fato não foi confirmado pela Polícia Civil à tarde, que afirmou apenas trabalhar também com a hipótese de um curto-circuito, sem especificar onde.
No momento em que as chamas começaram, um policial militar -que não tinha a chave das celas- fazia a guarda da cadeia. Um carcereiro, que estava de plantão e tinha a chave, não estava na delegacia no momento, segundo a Polícia Civil.

Impossível abrir
Ainda de acordo com a Polícia Civil, o carcereiro retornou para a delegacia minutos depois, mas como o fogo se espalhou rapidamente pelos colchões de espuma e o calor era forte, foi impossível abrir a cela.
Para se proteger das chamas, os presos se abrigaram no banheiro, de onde jogavam água na tentativa de apagar o fogo.
O resgate foi feito por alguns policiais, que abriram um buraco na parede da cela, pelo lado de fora da delegacia, do quintal de uma casa vizinha. Quando eles conseguiram entrar, os presos foram encontrados amontoados no banheiro.
Os corpos foram levados para o Instituto Médico Legal de Belo Horizonte, que informou, em uma primeira análise, que a morte ocorreu por asfixia e que detectou algumas queimaduras de segundo grau nas mãos e pés dos presos. O laudo final deve ser liberado em até 15 dias.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o governador Aécio Neves (PSDB) disse que o caso será investigado.

Capacidade
A cadeia abrigava 22 presos, mas tinha capacidade para 18. A cela dos oito presos media 21,93 m2 - 2,74 m2 por preso- e poderia abrigar seis internos, segundo a polícia. Dos mortos, cinco eram condenados e deveriam estar em penitenciárias.
Os 14 detentos sobreviventes estavam em outras três celas, que não foram atingidas. Dois deles, que ajudaram no resgate, foram internados com intoxicação e levados para um hospital local. Após serem medicados, foram liberados.
Sete presos foram transferidos para cadeia do município vizinho, João Monlevade (129 km de Belo Horizonte). Os outros foram levados para um albergue anexo à cadeia de Rio Piracicaba.


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