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Restamos eu e Deus, diz parente de 10 mortos
Fabiana Carvalho, 20, perdeu mãe, 4 irmãos, tia e 4 primos em deslizamento no morro da Carioca, no centro de Angra
Após velório em escola, sepultamento coletivo teve 16 vítimas da tragédia
no Rio causada pelas chuvas na virada de 2010
PEDRO SOARES
DO ENVIADO ESPECIAL A ANGRA DOS REIS
"Agora estamos só eu e Deus,
mais ninguém", disse Fabiana
Carvalho, 20, ao enterrar no final da tarde de ontem, em Angra dos Reis, os corpos da mãe,
Aparecida das Dores Emídio de
Carvalho, 38, e de três irmãos,
que tinham entre 6 e 21 anos.
Todos estavam na casa da tia
de Fabiana, Maria de Fátima
Narciso, irmã de Aparecida,
que foi soterrada pelo deslizamento de terra no morro da Carioca, no centro de Angra.
Maria de Fátima, 39, e suas
quatro filhas, que tinham entre
5 e 14 anos, também foram enterradas no fim da tarde, num
sepultamento coletivo de 16 vítimas da tragédia causada pela
chuva na virada de 2010.
Da família de Maria de Fátima, só uma filha, Stefany, 16,
sobreviveu. O marido, José
Eduardo, e a sogra, Eduarda,
74, estão desaparecidos. "Estou
à base de calmantes. Não sei o
que vou fazer", disse Stefany,
que, na hora do deslizamento,
estava na casa do namorado.
Aparecida das Dores morava
em Rio Claro, entre Angra dos
Reis e Resende, mas foi comemorar o Réveillon com a irmã.
Fabiana se salvou porque foi
para a casa de amigos em outro
bairro de Angra. Seu irmão caçula, David Lucas, de oito meses, também morreu, mas seu
corpo não havia sido liberado
para o sepultamento.
Além das nove vítimas do
morro da Carioca, foram enterrados sete da família de Osmênio Arlindo Pereira, cuja casa
foi varrida pela avalanche que
atingiu sete casas e parte de
uma pousada na enseada do
Bananal, na Ilha Grande.
Os corpos foram velados desde a madrugada no colégio estadual Arthur Vargas. Jonathan Silva Cruz, 19, amigo da família Pereira, contou ter retirado parte dos corpos dos escombros. "Foi uma cena terrível.
Muita pedra, muita lama. Nunca vou me esquecer."
Desabrigados
Ontem, as buscas no morro
da Carioca chegaram a ser interrompidas por uma hora em
razão de um pequeno deslizamento, mas foram retomadas.
Segundo a prefeitura, 14 corpos
foram encontrados no local até
o fechamento desta edição.
O governador Sérgio Cabral
(PMDB) visitou o morro à tarde. Prometeu transformar a
área que deslizou num parque e
Angra "numa referência" em
monitoramento de encostas.
"Não faltarão recursos."
Numa escola da Carioca, 113
pessoas estavam alojadas, pois
tiveram de deixar suas casas sob
risco de desabamento. Ao todo,
há no município 337 desabrigados e 565 desalojados (provisoriamente em casas de parentes).
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