São Paulo, domingo, 03 de janeiro de 2010

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Restamos eu e Deus, diz parente de 10 mortos

Fabiana Carvalho, 20, perdeu mãe, 4 irmãos, tia e 4 primos em deslizamento no morro da Carioca, no centro de Angra

Após velório em escola, sepultamento coletivo teve 16 vítimas da tragédia no Rio causada pelas chuvas na virada de 2010

PEDRO SOARES
DO ENVIADO ESPECIAL A ANGRA DOS REIS

"Agora estamos só eu e Deus, mais ninguém", disse Fabiana Carvalho, 20, ao enterrar no final da tarde de ontem, em Angra dos Reis, os corpos da mãe, Aparecida das Dores Emídio de Carvalho, 38, e de três irmãos, que tinham entre 6 e 21 anos.
Todos estavam na casa da tia de Fabiana, Maria de Fátima Narciso, irmã de Aparecida, que foi soterrada pelo deslizamento de terra no morro da Carioca, no centro de Angra.
Maria de Fátima, 39, e suas quatro filhas, que tinham entre 5 e 14 anos, também foram enterradas no fim da tarde, num sepultamento coletivo de 16 vítimas da tragédia causada pela chuva na virada de 2010.
Da família de Maria de Fátima, só uma filha, Stefany, 16, sobreviveu. O marido, José Eduardo, e a sogra, Eduarda, 74, estão desaparecidos. "Estou à base de calmantes. Não sei o que vou fazer", disse Stefany, que, na hora do deslizamento, estava na casa do namorado.
Aparecida das Dores morava em Rio Claro, entre Angra dos Reis e Resende, mas foi comemorar o Réveillon com a irmã. Fabiana se salvou porque foi para a casa de amigos em outro bairro de Angra. Seu irmão caçula, David Lucas, de oito meses, também morreu, mas seu corpo não havia sido liberado para o sepultamento.
Além das nove vítimas do morro da Carioca, foram enterrados sete da família de Osmênio Arlindo Pereira, cuja casa foi varrida pela avalanche que atingiu sete casas e parte de uma pousada na enseada do Bananal, na Ilha Grande.
Os corpos foram velados desde a madrugada no colégio estadual Arthur Vargas. Jonathan Silva Cruz, 19, amigo da família Pereira, contou ter retirado parte dos corpos dos escombros. "Foi uma cena terrível. Muita pedra, muita lama. Nunca vou me esquecer."

Desabrigados
Ontem, as buscas no morro da Carioca chegaram a ser interrompidas por uma hora em razão de um pequeno deslizamento, mas foram retomadas. Segundo a prefeitura, 14 corpos foram encontrados no local até o fechamento desta edição.
O governador Sérgio Cabral (PMDB) visitou o morro à tarde. Prometeu transformar a área que deslizou num parque e Angra "numa referência" em monitoramento de encostas. "Não faltarão recursos."
Numa escola da Carioca, 113 pessoas estavam alojadas, pois tiveram de deixar suas casas sob risco de desabamento. Ao todo, há no município 337 desabrigados e 565 desalojados (provisoriamente em casas de parentes).


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