São Paulo, segunda-feira, 03 de janeiro de 2011

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Desafio do Rio é usar Jogos como Barcelona

Há 19 anos, cidade espanhola usou realização de Olimpíada como pretexto para profunda renovação urbana

Prédios velhos foram reformados para alojar atletas; obras olímpicas ainda são utilizadas regularmente até hoje

STELLA AGUIAR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BARCELONA

Há no caminho do Rio um desafio: obter êxito na organização dos Jogos Olímpicos de 2016 e usá-los a favor do próprio desenvolvimento. Difícil, mas não impossível.
Há 19 anos, a cidade de Barcelona, na Espanha, conseguia fazer da Olimpíada pretexto para uma profunda renovação urbana. O evento de 1992 tornou-se o mais bem-sucedido modelo adotado por uma sede olímpica.
O responsável pela área de urbanismo da Prefeitura de Barcelona à época, Jordi Parpal Marfà, afirmava que "a ideia de realização dos Jogos era reconstruir a cidade".
Para tal, uniu-se esforço público e iniciativa privada.
Pela primeira vez na história de uma Olimpíada, o parque olímpico foi dividido em quatro espaços de menor dimensão, a menos de 5 km do centro, e em 15 subsedes. Todo o conjunto foi integrado por um complexo viário.
Em relação a uma das áreas, Montjuïc, a Olimpíada levou equipamentos culturais, esportivos e lúdicos, que ajudaram a transformar o local e até a eliminar os focos de criminalidade.
O projeto do bairro Parc del Mar foi um dos mais complexos. Jordi Parpal Marfà explica que se tratava de uma zona de indústrias decadentes e sem a infraestrutura para o saneamento das águas residuais e pluviais.
Era uma zona que inundava com a chuva, e as praias eram usadas como depósitos de escombros. O bairro tinha ainda uma linha de trem que impedia uma conexão fluida entre a cidade e a praia e criava uma zona degradada.
Com a extinção das vias ferroviárias e a melhora do bairro, Barcelona se abriu ao Mediterrâneo e se criaram cerca de 5 km de praia.
Para Parpal Marfà, as obras não poderiam ser para 15 dias ou três semanas; elas deveriam remodelar Barcelona. Assim, surgiram os chamados "contendedores".
Tratava-se de velhos edifícios recuperados para alojar esportes minoritários que não exigissem alojamentos específicos. Hoje, todas as construções olímpicas são utilizadas regularmente.

CONSELHOS PARA O RIO
O arquiteto e catedrático da Universidade Politécnica de Catalunha Josep Maria Montaner discorda do projeto que se realizará na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio, onde ocorrerá a maioria das competições) e o qualifica de especulativo e comercial.
"Não tem sentido reforçar uma zona residencial de classe alta, não ajuda a melhorar a cidade." Para ele, "a Barra está longe do centro e é uma zona ecológica muito frágil".
Marfà recomenda "buscar a cumplicidade do povo", algo que considera básico.
Do lado da organização carioca, as principais apostas de legado urbanístico da Olimpíada de 2016 estão concentradas no setor de transportes e na revitalização da zona portuária.
O projeto Porto Maravilha, que se espelha justamente no que aconteceu em Barcelona, prevê investimentos da ordem de R$ 7 bilhões para recuperar a região degradada no centro do Rio.
O pontapé inicial será dado com a construção de vilas para abrigar árbitros e imprensa. A ideia da prefeitura é usar os 10.600 novos quartos das duas vilas como parte de uma estratégia de repovoamento da zona portuária.
Também está prevista a instalação de hotéis na região. O elevado da Perimetral (semelhante ao Minhocão paulistano) será demolido para dar lugar a uma passagem subterrânea, melhorando a paisagem local.
Na área de transportes, haverá dois grandes investimentos. O primeiro é a extensão do metrô até a Barra, ao custo de R$ 4 bilhões.
O segundo é a criação de corredores expressos de ônibus ligando a Barra às zonas sul, norte e oeste, com custo somado de R$ 3,9 bilhões.

Colaborou RODRIGO RÖTZSCH, do Rio.


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