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Homicídio é mascarado por morte "sem classificação'
DA REPORTAGEM LOCAL
A explosão de mortes não-classificadas em São Paulo
coincide com o período em que
o número de homicídios no Estado começa a cair.
Em 1999, no pico da violência
paulista, esse limbo estatístico
abrigava 2.191 casos de "intenção indeterminada" -ou 6,4%
do total das 34.182 mortes por
causas externas. Naquele ano,
os homicídios batiam a casa de
15.810 registros, conforme os
dados do Datasus.
Já no ano seguinte, esse número ficou praticamente estável, com 15.631 assassinatos,
mas o de "indeterminados" pulou para 4.425 (cresceu 102%).
Com isso, o percentual de mortes "não-identificadas" passou
a representar 13,2% do total de
mortes não-naturais.
Em 2005, o último ano com
dados disponíveis na base do
Ministério da Saúde, São Paulo
atingiu seu pico na relação entre "indeterminados" e total de
mortes não-naturais: 17,2%.
Foram 4.729 casos indeterminados em um total de 27.420
mortes. Os homicídios caíram
para 8.727 registros.
Entre 1999 e 2000 foi, também, o período em que a Secretaria da Segurança Pública de
São Paulo implantou metas de
redução de criminalidade. O
comandante da PM ou o delegado de um distrito que não
atingisse as metas de redução
determinadas pela cúpula do
governo "perdia a cadeira".
Com isso, também começaram a surgir suspeitas de maquiagem dos números. Em
2002, a Folha publicou uma
reportagem revelando que os
homicídios sumiram das estatísticas oficiais, quer na tabulação feita pelo Estado quer pelos próprios policiais, que não
registravam casos como deveriam. Os dados eram de 1999 e
2000.
Em 2001, a Associação dos
Delegados do Estado de São
Paulo denunciou que delegados eram orientados, pelo Estado, a registrar homicídios dolosos com outras denominações, como "encontro de cadáver" e "morte a esclarecer"
(classificações que não entram
nas estatísticas). O governo
sempre negou as acusações.
Duas das principais fontes
dos dados enviados ao Datasus
dependem da Secretaria da Segurança. O boletim de ocorrência é feito por policiais, e a declaração de óbito, por médicos
do IML (Instituto Médico Legal), também ligado à pasta.
Se no boletim de ocorrência
não está claro que houve homicídio, e nem na declaração de
óbito, a chance desse assassinato virar "intenção indeterminada" é, praticamente, total.
(ROGÉRIO PAGNAN E EVANDRO SPINELLI)
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