São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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Rio inicia desfile em ritmo de "bloco de sujos"

Os "preparativos" começaram em abril, quando Polícia Federal prendeu os dois homens mais poderosos do Carnaval

Prisões de bicheiros ligados a escolas, suspeita sobre resultado de 2007 e elo da Mangueira com tráfico de drogas marcam desfiles

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O Carnaval carioca começa hoje em clima de "bloco dos sujos". Os "preparativos" começaram em abril passado, quando a Operação Furacão, da Polícia Federal, prendeu os dois homens mais poderosos do Carnaval: os bicheiros Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, que se afastou da presidência da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), e Aniz Abrahão David, o Anísio, presidente de honra da Beija-Flor -no momento, os dois estão soltos.
Uma CPI foi criada na Câmara dos Vereadores do Rio para investigar o resultado do concurso de 2007. Não ficou provada manipulação em favor da Beija-Flor, mas se questionaram os critérios de escolha dos jurados e o excesso de poder e dinheiro nas mãos da Liesa.
O carnavalesco Alexandre Louzada, que venceu com a Beija-Flor no ano passado e também com a Vila Isabel em 2006, rechaça a possibilidade de os jurados tirarem pontos da escola de Nilópolis para evitar suspeitas. "Aí o julgamento ficaria sob suspeita. Seria um revanchismo, não seria honesto."
Ainda inconformada com o sétimo lugar do Salgueiro -terceira a se apresentar nesta noite- em 2007, a carnavalesca Márcia Lavia pensa diferente. "Vão ter que se redimir. Foi muito estranho no ano passado. Um grupo de franceses veio aqui há pouco tempo e disse: "vocês foram "roubadus'!". Não vamos ser "roubadus" de novo".
A Folha deixou dois recados para o presidente da Liesa, Jorge Castanheira, mas ele não ligou para comentar a situação.
A vida da Mangueira não está nada cor-de-rosa. Em janeiro, as polícias Civil e Federal descobriram ligações dos (agora ex) presidentes da escola, Percival Pires, e da bateria, Ivo Meirelles, com traficantes. Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, que co-assina como Francisco do Pagode o samba em homenagem ao frevo (o quinto de hoje), está foragido acusado de comandar o tráfico no morro da Mangueira.
"A Mangueira está com raiva. E a Mangueira com raiva é muito perigosa. Os componentes não têm culpa de certas coisas e vão entrar com garra", diz o carnavalesco Max Lopes, que não crê em jurados antipáticos por causa do ocorrido.
Para o historiador e comentarista de Carnaval Haroldo Costa, a última vitória da Beija-Flor não pode ser questionada nem a integridade da Estação Primeira. "O episódio do Tuchinha é uma gota d'água dentro da história da Mangueira, que tem uma tradição e uma comunidade muito maiores."
O 2008 da Viradouro também começou mal. Seu presidente, o policial civil Marco Lira, foi baleado em 11 de janeiro numa suposta tentativa de assalto. Ele estará na avenida encerrando o desfile de hoje, mas sem a alegoria do Holocausto criada por Paulo Barros.
Irritada ao saber que o destaque seria um homem fantasiado de Adolf Hitler, a Federação Israelita do Rio conseguiu na Justiça, anteontem, obrigar a escola a mudar todo o carro alegórico, que trazia imagens de cadáveres.
A São Clemente abre o desfile de hoje, às 21h, reverenciando d. João 6º. A Porto da Pedra exalta a imigração japonesa. A Portela traz enredo ecológico.


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