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ANÁLISE
Quem paga a conta do espaço público?
FERNANDO SERAPIÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Até os anos de 1960, as faculdades da USP espraiavam-se
por São Paulo integradas à malha urbana. O melhor exemplo
era a Vila Buarque: uspianos
alimentavam comércios e serviços e tornavam a vida urbana
dinâmica e rica em relacionamentos. Contudo, em nome do
progresso, apostou-se na criação de um campus longinquo.
Resistindo a pressões nacionalistas para que os edifícios
fossem em estilo neocolonial,
venceu o urbanismo moderno:
a Cidade Universitária é um
fragmento da escola corbusiana que, em linhas gerais, idealizava cidades com prédios isolados em meio ao verde. Por isso,
ela é o espaço paulistano que
mais lembra Brasília.
Mas o desejo de liberdade
modernista esbarrou em pressões dos anos de chumbo. Assim, para o bem ou para o mal, a
alma urbanística ficou no papel. Não foi feita, por exemplo,
a praça central -proposta por
Oswaldo Bratke-, o espaço cívico vital, que agregaria moradias e prédios culturais.
Também ficou na gaveta o
chamado "corredor das humanas", uma espécie de rua que
interligaria seis faculdades.
Resultado: a USP é urbanisticamente apática. Há um ou outro prédio interessante -em
prol da liberdade, a faculdade
de arquitetura, por exemplo,
não tem porta de entrada-,
mas estão todos confinados, ensimesmados no verde bucólico.
Se o urbanismo moderno falhou em seus propósitos de
criar novas relações humanas,
neste caso, não podemos negar
que ele nos legou uma imensa e
vital área verde, cinco vezes
maior do que o Ibirapuera.
Na falta de alternativas, a população a usa para esporte e lazer, como um parque. Esse passivo modernista que a USP herdou tem uma questão não respondida: quem deve arcar com
a manutenção da área verde, da
limpeza e garantir a segurança?
O foco da USP é o ensino; por
isso, diante da violência e dos
custos de manutenção, vez ou
outra, a direção restringe o uso
público. Não vou me surpreender em ver catracas e o acesso
negado definitivamente -tal
como já ocorre nas privadas.
Para sobreviver, a instituição
vergonhosamente dá adeus ao
espírito público e as costas para
a sociedade. Em um futuro próximo -se não houver um acordo entre o governo e a universidade sobre quem paga a fatura-, vai ser mais difícil entrar
na USP para correr do que passando no vestibular.
FERNANDO SERAPIÃO é arquiteto e urbanista
e editor-executivo da revista "Projeto Design"
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