São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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ENSINO SUPERIOR

MEC se reúne na segunda para discutir assunto; universidade já contrata novos professores com salários menores

Governo federal estuda socorro à PUC-SP

Fotos Leonardo Wen/Folha Imagem
Faixa pede o fim das demissões e da intervenção na universidade


LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Educação realizará uma reunião interna na próxima segunda-feira, em Brasília, para definir estratégias que sirvam como forma de ajuda para a ""solvência" da PUC-SP.
A universidade católica passa por grave crise financeira, que culminou com a demissão de 30% de professores e funcionários.
O governo estuda conceder um financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) -a federalização, porém, não é cogitada.
As informações são do ministro interino da Educação, Jairo Jorge, que esteve em Porto Alegre.
""Dom Cláudio [Hummes, arcebispo de São Paulo, que ocupa o principal cargo da PUC] fez uma solicitação, e o presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] nos pediu para analisar o caso. Sem dúvida, essa situação da PUC exige soluções. Trata-se de uma crise recuperável. Temos de fazer esforços para a PUC se tornar solvente", afirmou Jorge. A universidade deve R$ 82 milhões aos bancos Bradesco e ABN Amro.
Para o ministro interino, o pedido de ajuda feito pelo cardeal ""é um apelo sensível e correto".

Negociações
A Folha apurou que dom Cláudio encontrou Lula no início de janeiro, em Brasília, para negociar um empréstimo do BNDES com condições mais vantajosas do que as do Bradesco e do ABN Amro -teve como resposta que a situação seria resolvida.
Dias depois, porém, dom Cláudio recebeu uma proposta do Banco do Brasil, com condições semelhantes às dos dois bancos privados. O cardeal não aceitou.
Ele alterou a formação da Fundação São Paulo (mantenedora da PUC) para que a Arquidiocese de São Paulo fizesse o corte para acabar com o déficit mensal de R$ 4,3 milhões -exigência dos bancos credores. Até então, a reitoria havia atingido cerca de 75% da meta. Assim, foram demitidos 211 docentes e 114 funcionários.

Salários menores
Como conseqüência da crise, professores que agora forem contratados na PUC-SP receberão um salário até 56% menor do que antes da crise financeira. Cerca de 70 pessoas deverão ser admitidas nas próximas semanas já com essa nova faixa salarial.
A redução ocorrerá nos dois anos iniciais do professor na universidade, período chamado de probatório. Antes, quem estivesse na "fase de teste" já recebia como um profissional do quadro fixo.
Exemplo: um assistente-doutor tem salário de R$ 7.300; com a mudança, quem estiver nessa função, mas na fase probatória, receberá R$ 3.200. Em outros cargos, as quedas ficam entre 36% e 44%. A PUC afirma que os novos valores têm como base os da USP.
Após o período probatório, se o docente for bem avaliado e houver vaga, ele entrará no quadro permanente e terá os mesmos benefícios e salários que os demais.
"Esse período já existia. O que mudou foi a faixa salarial. Definimos isso na semana passada, após negociação com a Fundação São Paulo", disse ontem a vice-reitora acadêmica, Bader Sawaia.
Questionada se esse salário menor não pode trazer perda de qualidade acadêmica, Sawaia disse que "isso é uma preocupação". Porém, ela avalia que, como o professor poderá entrar na carreira regular após os dois anos, a universidade continua atrativa.
Para Erson de Oliveira, diretor da Apropuc (associação dos docentes), "o objetivo é claro: demitir professores antigos e contratar outros mais baratos". Ele disse também que o rebaixamento salarial obriga os professores a ficarem mais tempo na sala de aula e menos tempo pesquisando. "Isso afeta a qualidade acadêmica."
Já para o professor Eduardo Cruz, do movimento PUC Livre (que surgiu por discordar da Apropuc), a contratação de docentes "traz novas visões para a universidade". Ele declarou, no entanto, que a perda de experiência também deve ser considerada.

Contratações
Cerca de 70 contratações já estão em curso na PUC. Esses professores irão cobrir a primeira onda de demissões, feita pela reitoria, em que 261 foram cortados.
Essas demissões, somadas a medidas administrativas, geraram um corte de cerca de 75% do déficit mensal. O enxugamento não foi aceito pelos bancos, a Arquidiocese interveio e demitiu outros 211 -a reitoria reverteu 25.
A PUC está finalizando a avaliação da segunda onda de cortes. Mesmo assim, a vice-reitora acadêmica afirma que "poucas" disciplinas ficarão sem professor neste começo de semestre letivo.
Ontem, no primeiro dia de aula, o trote atraiu quase todos os alunos presentes. Apesar de algumas faixas de protesto na universidade, o clima era de descontração. "Os veteranos me contaram que a PUC está em crise. Mas hoje o pessoal quer é curtir", disse Bruno Bianchi, 18, calouro de turismo, sem cabelo e com o rosto pintado.


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