São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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CARNAVAL

Jornais noticiam título da escola, que teve dinheiro do governo Chávez

Mídia na Venezuela destaca a vitória da Vila Isabel no Rio

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Campeã do Grupo Especial do Carnaval do Rio, a Vila Isabel foi tema da primeira página de quase todos os jornais da Venezuela, que destacaram o apoio da petrolífera estatal PDVSA (Petróleos da Venezuela) à escola e a representação de Simón Bolívar no desfile. A repercussão chegou a incluir pedido de investigação do presidente Hugo Chávez por suposto mau uso de dinheiro público.
Diários do Peru e do Equador, outros países onde Bolívar lutou pela libertação, também noticiaram o campeonato da Vila.
O diário "El Nacional", um dos principais de Caracas, trazia ontem integrantes da Vila Isabel empunhando uma bandeira da Venezuela em sua foto principal, ressaltando que a agremiação se "consagrou campeã com um canto à integração latino-americana". O diário "2001" afirmava que a Vila, que "recebeu um patrocínio aproximado de US$ 1,5 milhão da empresa estatal PDVSA, foi proclamada campeã do Carnaval do Rio em 2006".
Entre os jornais, há divergências quanto ao valor do patrocínio. O "El Nacional" menciona US$ 450 mil. O "Últimas Notícias", também de Caracas, cita a mesma cifra, dizendo que a escola "recebeu um financiamento" da petroleira. Oficialmente, nem a Vila Isabel nem a PDVSA confirmam o valor, mas a Folha apurou que o patrocínio ficou em cerca de R$ 1 milhão -o que corresponde a US$ 450 mil.
Outro a noticiar a conquista da escola do bairro de Noel Rosa foi o jornal venezuelano "El Universal", que ressaltou o patrocínio na abertura de seu texto.
Mais enfáticos, porém, foram os jornais de outros países. "El Correo", do Peru, trouxe título parecido: "Escola de samba patrocinada por Chávez ganha o Carnaval do Rio". O "Expresso", de Guayaquil (Equador), diz na reportagem que a Vila "se consagrou campeã com uma monumental apologia à integração latino-americana e com o apoio financeiro do governo venezuelano".

Acusações
A entidade Cambio Democrático pediu ao procurador-geral da República da Venezuela que investigue o financiamento da Vila Isabel com recursos provenientes do governo Hugo Chávez, de acordo com informações do jornal "El Universal".
Oscar Arnal, presidente da entidade, diz que Chávez deve ser processado por peculato (quando um funcionário público se apropria de dinheiro público) e malversação (má gestão).
"Nos dói que se distraiam e invistam dinheiro do erário nacional em objetivos que ridicularizam a nossa máxima figura pátria [Simón Bolívar] e que nada de positivo deixam para os venezuelanos. É a mesma política de proselitismo político pessoal e dádivas a outros países à margem da lei", afirmou Oscar Arnal, citado pelo "Universal".
Caso sejam encontradas irregularidades no apoio dado à Vila Isabel, Chávez pode ser processado pelo Tribunal Supremo de Justiça (equivalente ao Supremo Tribunal Federal brasileiro). Em sua página na internet, a Cambio Democrático se define como "organização não-governamental, apartidária e sem fins lucrativos" que pretende uma sociedade com "cultura pacífica e participativa".


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